Assessoria de Imprensa: especialistas comentam sobre planejamento e as melhores práticas de divulgação

17 maio POR ALGOHITS

Quando um artista, selo, marca ou projeto musical está devidamente pronto para ser disponibilizado para o mundo, o trabalho da assessoria de imprensa começa. E uma série de perguntas aparece pelo caminho, desde como encontrar um profissional que dê fit com o seu trabalho, quanto de orçamento separar para essa etapa mas também dúvidas básicas sobre o papel do profissional contratado.

Por onde dar o pontapé inicial? Quais são as melhores formas de planejar um lançamento? Quais boas práticas seguir na hora de divulgar? Como conversar com a imprensa de forma estratégica e entender os espaços possíveis para a difusão de um trabalho?

A expectativa por colher resultados de um trabalho suado é sempre alta e por isso todo cuidado é pouco para não perder oportunidades. Conversamos com 7 especialistas do mercado de relações públicas e assessoria de imprensa para entender mais sobre os desafios, enclaves e oportunidades na hora de planejar um lançamento.

Os Assessores de Imprensa

Antes de mais nada contamos um pouco mais sobre cada um dos nossos entrevistados para entenderem mais sobre as diferentes trajetórias e aprendizados que cada um tem ao longo da sua carreira. Perguntamos a eles sobre qual case integrado que puderam trabalhar que destacariam, confira a resposta de cada um.

Piky (Mariana Candeias) - Asessoria de Imprensa

Mariana Candeias (Piky)@piky.comunicacao

Piky

“Eu sou Mariana Candeias, a Piky, e já trabalho no mercado de arte e entretenimento no Brasil há muito tempo. A Piky Comunicação é minha empresa de assessoria de imprensa, marketing, conteúdo digital, consultoria e redação de texto e é a soma de toda minha experiência de quase 30 anos trabalhando nessa área. Neste período trabalhei na MTV e nas gravadoras Warner, Abril Music e Trama.

Depois criei, junto com um sócio, a Batucada Comunicação, onde atendi diversos artistas, festivais e gravadoras, incluindo a Skol Music, a Lab Fantasma e a Deck, minha cliente até hoje. Minha forma de trabalhar é basicamente estar muito alinhada com o cliente, criando uma estratégia na medida, de acordo com o interesse e os objetivos em cada etapa. Eu participo de todas as partes do processo pois acredito que quanto maior o envolvimento, melhor o resultado. Ao lado do Alexandre Matias temos um “serviço” chamado Consultoria de Música. Nós mandamos um questionário para o artista, olhamos todo o material, álbum, release, redes sociais e etc e aí fazemos uma reunião indicando caminhos. Entre alguns artistas independentes que já trabalhei estão Cidadão Instigado, Yago Oproprio, Cordel do Fogo Encantado e Tetine.”

Julia Ourique Assessoria de Imprensa

Julia Ourique@orbecomunicacao

Julia Ourique

“São vários casos curiosos e clientes. O mais recente, que tem dado frutos inclusive em outras áreas não relacionadas à mídia, é o trabalho que tive a oportunidade de desenvolver nos últimos dois anos com o artista chamado Tuuh, de São Paulo. Ele já tinha cerca de 10 anos de carreira na música, atuando em bandas do gênero J-rock e focado no público geek e otaku de eventos de anime.

Em 2021 começamos a trabalhar juntos nos primeiros lançamentos da carreira solo dele, que se dividia entre as personas Tuuh e Tutz, que também eram reproduzidas em vídeos e conteúdos para as redes sociais (Instagram e TikTok), enquanto eu explorava na imprensa essa dualidade da persona heavy metal e do k-pop que ele trazia nestes projetos. Usando linguagens diferentes para tratar dos diferentes projetos, realizando reuniões mensais, além das trocas diárias por meio do WhatsApp, chegamos num ritmo de trabalho que eu já conheço o que ele irá postar nas redes sociais e ele sabe os lugares que vou “atacar” como assessora de imprensa.

Recentemente, também começamos a alinhar as redes sociais e o trabalho de relações públicas com a produtora responsável pelas turnês, a TK7 Squad, e com isso em um show que o Tuuh realizou no Rio de Janeiro, durante a primeira edição do Anime Friends em terras cariocas, alcançamos destaque no UOL, na rádio BandNews FM, no G1, entre outros. Foi uma correria, mas com uma frente de profissionais unidos para alcançar um objetivo, tudo teve um final feliz.”

Flora Miguel Assessoria de Imprensa - Foto Por Samuel Esteves

Flora Miguel (@floreandu) – Foto Por: Samuel Esteves

Flora Miguel

“Foi muito bom o trabalho integrado da II Mostra Elas em Cena, idealizada pela Aline Fernandes, a Ana Lima e a Pamela Gopi e cuja ponte com a imprensa especializada foi feita por mim e pela Izabela Costa. Estivemos em atividade com assessoria enquanto as redes digitais da mostra forneciam conteúdos relevantes de modo que o festival fosse se apresentando pouco a pouco, e se aproximando tanto das mídias que pudessem falar sobre ele quanto do diretamente do público em potencial a partir das redes. Rolou um podcast com entrevistas, publicações apresentando line up e equipe, playlist, pautas na imprensa tradicional e digital, ou seja, um trabalho que reverberou antes, durante e depois da mostra.”

Thais Pimenta Assessoria de Imprensa

Thais Pimenta@Cafe8music

Thais Pimenta

“Na frente de PR + Social, destacaria o trabalho com a NPKN que estamos desenvolvendo desde 2021, com a Dani Buarque na coordenação. É nítido como elas vêm conquistando um espaço com base sólida e coeso ao longo desses anos, é bem legal de acompanhar. E, por um bom tempo, ficamos só no Social Media com elas, isso foi bem importante para criar uma base, a fim de ter mais credibilidade nos momentos de ativar a imprensa. Nem sempre uma assessoria de imprensa é o melhor caminho, logo de cara. Às vezes, fazer um bom trabalho de redes para começar e ganhar uma certa base pode ser mais prudente.”

Francine Ramos - Assessoria de Imprensa

Francine Ramos@franfranramos

Francine Ramos

“Já trabalhei em muitas áreas da cultura, com moda, teatro, artes plásticas, cinema, mas foi na música que me encontrei. Há mais de 10 anos meu foco vem sendo na música independente, com o que há de novo na música e quem é da área sabe que a gente faz de tudo um pouco. Já produzi noite em casa noturna, já produzi e fiz booking de bandas como Garotas Suecas, Holger, Supercordas, mas desde a pandemia meu caminho me levou pra assessoria de imprensa.

Tenho orgulho e alegria de fazer parte da caminhada de alguns clientes como os selos Balaclava Records e RISCO. Já trabalhei com festivais que admiro como o Popload e Dia da Música, pude fazer algumas edições do Coquetel Molotov (PE) e Se Rasgum (PA). Durante a pandemia tive o desafio de fazer parte do time de comunicação da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que foi uma escola. Hoje, além da minha empresa, tenho o novo desafio de fazer parte do time de PR da Natura Musical, plataforma musical que tanto admiro.”

Izabela Costa - @assessoriza

Izabela Costa@assessoriza

Izabela Costa

“Eu sempre cito a Supercombo, banda que abriu os braços pra mim desde sempre. Hoje boa parte da profissional que sou, devo a eles. Com a Supercombo eu aprendi como as coisas se interligam: quando você pensa num disco ou num show, por exemplo, você entende que dali são vários conceitos contemplados e que cada um deles “dá samba”.

No momento, por exemplo, estamos elaborando as ideias de comunicação do novo disco do grupo, que será lançado por completo em Maio de 2023. A gente já vem desenhando como e quando vamos falar dessas novidades, já mapeando possibilidades de parcerias e apoios que transformem esta nova fase em algo ainda mais impactante e criativo. Fornecedores de equipamentos técnicos, apoio de figurino, convidados especiais, tudo se conecta de algum modo, gerando um universo próprio da banda, que esperamos fixar na cabeça dos fãs a cada show feito.”

Daniel Pandeló Corrêa - Foto Por: Pedro Freitas

Daniel Pandeló Corrêa (@buildupmedia) – Foto Por: Pedro Freitas

Daniel Pandeló Corrêa

“Recentemente temos trabalhado muito com a HQ Music, que é uma empresa de artist services, que tem como uma de suas principais características trabalhar a arte de artistas estrangeiros no Brasil. Uma coisa que acho muito legal é que temos uma liberdade de adaptar os conceitos e ideias do artista para o mercado brasileiro. Recentemente elas fizeram algo sensacional com a Gabrielle Aplin.

Ela é uma cantora e compositora inglesa que lançou um álbum que tinha uma arte única feita em cianotipia, uma técnica fotográfica muito peculiar. Para divulgar o álbum, foi feita uma exposição de arte, com venda revertida para causas que a artista acredita e organizado um show intimista. Se tornou algo em torno dos conceitos do álbum e ideias e filosofias de vida da artista. Esse tipo de respeito somado ao fato de tirar dos algoritmos e trazer algo pro mundo real é algo que acho incrível.

Esse é um caso muito peculiar e específico, mas acho que para artistas independentes, o exemplo possa ser de conhecer bem a sua arte e saber que a sua experiência como ser humano é parte do processo de transformar aquilo em algo interessante.”

Qual sente que é a maior dificuldade de um artista na hora de planejar um lançamento e quais observa que são os maiores desafios?

Daniel Pandeló Corrêa: “Acho que nos dois casos é a mesma coisa: ansiedade e expectativas. Todo trabalho artístico é um trabalho de alma e de suor, mas nem sempre as outras pessoas vão responder do mesmo jeito que você quer e isso é um dos desafios que muitos artistas – principalmente no começo de carreira passam. E exatamente por ter muito carinho pelo que tem na mão, querem soltar logo e nem sempre dão o tempo necessário para que tudo seja feito com calma pra funcionar melhor.”

Izabela Costa: “Acredito que a maior dificuldade seja a compreensão de um cronograma. Geralmente a comunicação acaba sendo a última das preocupações dos artistas – quando deveria ser uma das primeiras. Então, depois de passar por todo o processo de gravação e pós-produção, o artista só quer colocar seu projeto no mundo e muitas vezes isso prejudica a elaboração de um planejamento mais adequado, que respeite prazos maiores entre um lançamento e outro e tal.

Acho que trazer essas informações e transmiti-las de um modo que faça sentido para o artista muitas vezes acaba sendo a parte mais difícil, pois estamos lidando com algo muito subjetivo, que é a vontade do artista em lançar seu novo projeto. É preciso tato e disposição para conseguir encontrar um meio termo que não afete as dinâmicas de imprensa, mas que também não deixe o artista insatisfeito ou infeliz com o tempo das coisas.”

Francine Ramos: “São muitos os desafios para um artista lançar um trabalho. O ideal sempre é que ele tenha um time que possa ajudá-lo: um (a) assessor (a) de imprensa, uma pessoa responsável pelas redes sociais, um (a) booking para ajudá-lo na agenda de shows, um (a) produtor/empresário (a) que ajude nas demandas do dia a dia e que pense estrategicamente em sua carreira, um selo que te permita trocas com outros artistas do casting e por aí vai. Mas trabalhando com a música independente e levando em consideração a situação econômica, sei que poucos conseguem de fato ter um time completo.

O importante mesmo é que, na hora do lançamento, não esquecer o material básico de uma divulgação: o disco pronto com antecedência, um bom release, boas fotos, disposição para a maratona. Fundamental falar com seu público durante todo o processo porque acredito em construção sólida, começando pela base, tijolo por tijolo, sem seguir fórmulas como as que ditam que o artista tem que lançar algo novo toda semana.”

Thais Pimenta: “Além de uma boa organização e estrutura financeira, a maior dificuldade é não ter noção do tempo dos processos, o que acaba gerando ansiedade e isso pode jogar tudo por água abaixo. Sei que entender do processo é algo que não dá pra se exigir…mas precisa estar aberto a escutar pessoas que têm mais experiência e, mais ainda, é importante estar atento para perceber conforme os processos vão se dando. Criar prazos irreais só vai fazer o projeto se tornar frustrante e, às vezes, pode-se descobrir no meio do caminho que aquele prazo é irreal.

Então, precisa ter sangue frio para analisar quando mudar de rota, pois, planejamento é como um ‘organismo vivo’. É preciso ter um norte, mas tem que ter jogo de cintura para remanejar se preciso. Além disso, o artista precisa ter noção do seu tamanho, do seu momento de carreira, se aquele tipo de som que ele faz tem a ver com o caminho que ele está traçando. E também acho bom ter uma boa dose de ética. Comprar play é uma péssima maneira de se auto prejudicar, por exemplo. Pode até dar uma fama momentânea, mas não se sustenta. Não caia nessa, uma artista de carreira é o que fica.”

Flora Miguel: “Acho que a maior dificuldade é pensar simultaneamente em plataformas digitais, mídias sociais, imprensa especializada e shows, na hora de preparar um lançamento.

É muita coisa para se ter em mente, por isso quando a/o artista pode ter uma equipe a quem encarregar parte dessas funções, a coisa tende a fluir melhor. Mesmo com equipe, é desafiador: como conciliar as melhores oportunidades tendo em vista a multiplicidade de locais onde a música é disseminada hoje?”

Julia Ourique: “A situação da artista, principalmente em início de carreira, vem muito da pressa. De querer que tudo aconteça pra ontem. Por isso, acredito que a falta de planejamento seja a maior dificuldade. Ter a música pronta não basta. É preciso divulgar sua música e a preparação para a divulgação, para o lançamento, é preciso ser realizado por meio da troca de ideias com outras profissionais.

Qual a melhor data para o lançamento? Quais playlists vale a pena buscar um espaço? Lançar sozinha ou por um selo? São questões que não têm uma resposta única, é por meio da conversa com a empresária, produtoras, assessoras de imprensa, outras musicistas, que a artista consegue chegar numa solução que vai fazer sentido para a carreira dela e o ponto que ela está em sua trajetória.

Dito isso, os maiores desafios vêm da própria artista, de reconhecer que a ansiedade faz parte mas não pode deixá-la dominá-la. E entender que é um mercado altamente competitivo, injusto e que é preciso se atualizar sempre, frequentar shows, eventos, para criar contatos. É no dia-a-dia, nos encontros presenciais, que se faz os maiores ganhos da carreira. No mundo da música é preciso estar onde a arte está.”

Piky: “Acho que a maior dificuldade do artista é perceber o estágio que ele está e qual a melhor forma de usar a verba que ele tem disponível. É muito difícil ter uma fórmula  que sirva para todos porque depende do estilo musical e do quanto aquele artista já tem ou não um público, mas basicamente entender que ponto está na carreira.

Acho que o maior desafio do artista é a manutenção, continuar gerando notícias, fazendo shows, videoclipes e movimentando as redes sociais.”

Em um cenário ideal, qual é a melhor forma de planejar um lançamento? Cite um caso em que sentiu que fez toda a diferença essa atenção na hora de colher resultados.

Flora Miguel: “Hoje, te diria que a melhor forma de organizar um lançamento musical é com tempo. Sou do tipo que aconselha artista e jogar o lançamento pro mês seguinte, a fim de termos melhores chances de atingir seus objetivos. Às vezes, na lógica imediata da hiper digitalização perdemos muitas oportunidades. Como exemplo, menciono os casos dos trabalhos de Papisa, Siso e BIKE, que planejo e acompanho a médio/longo prazo e têm trazido resultados crescentes e muito prósperos.”

Thais Pimenta: “Só planeje com o disco ou single ou clipe prontos. Isso de querer planejar quando ainda está em estúdio ou com o clipe na edição, é quase sempre uma furada. A chance do planejamento ser frustrante é praticamente certa. Ainda mais quando se fala em artistas independentes, que, geralmente, não têm uma estrutura financeira. E, hoje em dia, dou preferência pra trabalhar com quem tem essa noção, o resultado é outro.

Tagua Tagua só inicia o processo com o disco pronto. Não tem essa de ir lançando o single enquanto ainda tá fazendo o disco. Pelo contrário, é uma coisa depois da outra. Ter um cuidado nisso faz toda a diferença. Pior coisa é ficar naquela ansiedade de estar com a música com data marcada no streaming, mas ainda editando o clipe. Não faça isso. Não jogue contra você mesmo.”

Francine Ramos: “Como já citei acima, antes de tudo pensar no básico. Reuniu todo material? Tempo é fundamental para que a distribuidora possa fazer um bom pitching com as plataformas, que tanto selo como o artista possa fazer um bom aquecimento nas redes, que a imprensa receba com antecedência para poder ouvir com atenção seu trabalho e acho sempre válido soltar pelo menos um single de um disco para sentir a resposta do público e imprensa.

Dito isso, não acredito que há uma fórmula exata, cada artista é único. Já tive trabalhos que tiveram uma bela resposta de imprensa de cara e outros que ninguém deu bola no lançamento e o trabalho foi crescendo aos poucos e conquistando seu lugar e de repente era a imprensa que tava procurando o artista, conquistando prêmios.”

Izabela Costa: “A melhor forma de planejar um lançamento é quando tudo está pronto e você só faz organizar datas e estratégias de divulgação. Geralmente artistas e bandas costumam divulgar seus projetos muito em cima da hora, por exemplo, anunciam que daqui uma semana haverá um clipe novo e o vídeo só fica pronto NO DIA do lançamento, impossibilitando da gente, enquanto assessoria, trabalhar esse material com mais tempo e antecedência.

Não é incomum pautas serem recusadas porque foram ofertadas num prazo apertado demais, ainda mais se a gente pensar na realidade de nossas redações, cada vez mais enxutas e movidas à audiência e interações. Levando tudo isso em consideração, eu diria que um lançamento ideal acontece quando você conclui a obra e na sequência inicia sua comunicação, dando um tempo bacana para cada etapa do processo. A assessoria fica com mais tempo de produção e ativação das pautas, os jornalistas ficam mais tranquilos em suas apurações e escritas e o artista consegue sentir o ritmo e a penetração do seu lançamento na mídia de modo mais perceptível.

Daniel Pandeló Corrêa: “Olha, nos últimos tempos uma coisa que sinto que tem sido o diferencial é tempo e material finalizado. Todas as vezes que começamos o trabalho com tempo de definir junto com o pessoal que vai fazer distribuição, com as redes sociais, quando cada coisa vai ser feita só que com tudo pronto, é incrível. Disso isso pois muito do caos que pode vir de ter que resolver mix, master, finalização de vídeo, cobrar pessoas, fazer fotos já passou. Aí até o artista fica mais leve para fazer tudo e até conseguimos pensar em conteúdos diferentes e propostas que muitas vezes não poderiam ser feitas pelo caos de um deadline em cima.”

Julia Ourique: “O “sonho de princesa” de toda assessora de imprensa é trabalhar com artistas que consigam sincronizar o trabalho com todas as profissionais ao seu redor: a fotógrafa que entrega as fotos no prazo, a A&R do selo que participa de todas as reuniões do pré-lançamento, além da própria artista ser uma profissional que acompanha outros lançamentos, artistas do mesmo nicho e tem um planejamento para redes sociais (caso não tenha uma equipe preparada para lidar com essa parte).

Tive boas experiências a nível de planejamento com as bandas Antiprisma (SP), de folk rock, com a banda Lyria, de metal sinfônico (RJ), entre outras. Mas o caso mais recente foi com a cantora Lori (SP), que lançou em fevereiro de 2023 o single e clipe “Me dói, boy”, com o cantor Matias e o rapper FBC. Embora o conteúdo fosse lançado somente em fevereiro, em novembro de 2022 eu já estava em conversas com ela no WhatsApp pensando em quais veículos gostaríamos de sair, qual a quantidade de fotos e em qual formato ela deveria requisitar para a fotógrafa, como seria a história do clipe, qual era a melhor data para lançar sem ser ofuscada pelo Carnaval. Focamos na qualidade ao invés da quantidade e nesta divulgação, que passou por um pré-lançamento para jornalistas selecionados com quase 1 mês de antecedência em relação à data de lançamento, conseguimos alcançar, novamente, o programa “TVZ”, do Multishow, com o clipe de “Me dói, boy”, além de conseguir colocar o single em três grandes playlists editoriais do Spotify, entre elas o Pop Brasil, uma das mais concorridas da plataforma.

Foi um trabalho de formiguinha, que contou até com Lori saindo pelas ruas do Carnaval usando um QR code para divulgar a própria música e perambular pela SIM (Semana Internacional da Música de São Paulo) repassando via airdrop a faixa “Me dói, boy”, colou lambes pela rua… A moça batalhou, e a energia dela fez com que todo mundo que estava trabalhando nessa divulgação também se dedicasse ainda mais. Foi bonito demais de se ver!”

Piky: “Acho que é ter o material com antecedência, sem dúvida. Ajuda muito se o artista tiver alguns clipes, alguns shows, enfim, várias notícias que possam ser trabalhadas separadamente mas fazendo parte do mesmo projeto. Não saberia citar um caso específico, mas em geral quando procuram a assessoria com pelo menos uns dois ou três meses de antecedência é ótimo.

Nas gravadoras em geral é mais fácil esse timing funcionar porque a assessoria já está lá dentro acompanhando passo a passo desde quando o artista entra em estúdio.”

A estratégia em nossos dias mudou bastante do que era na década passada com mais presença nas redes sociais e estratégias de marketing orquestradas além do disparo (e follow). Como acredita que a área de RP na música teve que se reinventar e como isso afetou diretamente o serviço que oferta?

Piky: “Puxa, acho que a área de RP está sempre se reinventando e hoje precisa trabalhar em parceria com as redes sociais dos artistas. Afetou no sentido da comunicação precisar estar unificada, seja a comunicação para a imprensa ou para as redes sociais do artista.

Fora isso, hoje há “influenciadores” que não são jornalistas mas acabam ajudando na divulgação caso haja uma ação de marketing envolvendo eles. Não acho que isso tenha afetado o serviço que eu oferto, mas sim a forma de trabalhar e, principalmente, as estratégias.”

Julia Ourique: “Olha só, me chamando de velha em uma pergunta! (risos) De fato, na DÉCADA PASSADA, as redes sociais funcionavam apenas como meros espaços para colocar imagens e/ou compartilhar links. E já estava de bom grado, e mesmo assim, quase ninguém fazia! Saudades dessa época mais simples, inclusive.

Hoje, alinhar redes sociais e assessoria de imprensa é essencial. De nada adianta conseguir resultados, se o artista não comunica em suas redes que está lançando música/álbum/clipe novo; De nada adianta conseguir resultados, se a artista não interage com as publicações dos sites que a mencionam, falam de seu trabalho. Inclusive é sempre interessante quando as equipes de redes sociais e assessoria de imprensa conseguem trocar uma ideia de como lidar com determinados lançamentos, alinhando as duas mensagens, o resultado chega de forma mais profunda.

Já da minha parte, como eu cresci tendo que lidar com essa confusão de unir vida pessoal/profissional em uma mesma rede social, não foi tão difícil entender que, para algo realmente existir, teria que ser divulgado em minhas redes pessoais. Agora para as artistas que tentam se manter afastadas das redes, vejo que esse perfil tem dificuldades em lidar com o que é exigido pelo mercado da música atualmente.

Felizmente, voltando para a visão da jornalista, somos bastante flexíveis em relação ao que é exigido de nós enquanto profissionais. Embora pensar com cabeça de marketing possa ser irritante várias vezes, facilitou o trabalho do follow, que é a busca pelo retorno do repórter em relação à pauta enviada, que hoje pode ser realizado inteiramente pela internet.”

Flora Miguel: “Percebo que me aproximei, e sigo aproximando, mais do universo da distribuição digital/plataformas de streaming, entendo que a música também é amplamente acessada ali (com todas as contradições que essas plataformas têm). Com as redes sociais também, por mais que eu não faça esse trabalho tento estar atenta a como a música, e artistas, são disseminados ali.

Ou seja, além de um olhar mais amplo para onde o som está, a assessoria não pauta mais unicamente como o lançar – levamos em consideração estratégias de streaming, redes sociais e marketing pra chegar num consentimento sobre a melhor estratégia ao lançar a música.”

Thais Pimenta: “Em 2023, a Café8 Music completa sete anos. Antes, de 2011 a 2016, trabalhei na Press Pass, onde uma das frentes que atuei também foi a música. Acompanhei de perto essa mudança e isso me fez entender que não poderia continuar só oferecendo o serviço tradicional de assessoria.

A comunicação do artista ganhou asas, hoje existem muitas outras formas de divulgar, além do jornalismo tradicional. Então, ampliamos para o marketing digital, que engloba não somente o social media, mas também análise de dados e outras formas de auxiliar o artista a se destacar nas redes.”

Francine Ramos: “O digital chegou com força total e as redes sociais mexeram bastante no processo de comunicação. Não dá mais para fazer um lançamento sem pensar nisso e chegamos inclusive no dilema do artista, que se viu obrigado a também atuar como produtor de conteúdo.

Acho que estamos vivendo um momento de revolução na comunicação como um geral e muitas vezes vemos que inclusive a rede passou a pautar a imprensa, por isso a busca incessante pelo conteúdo viral. Nesse sentido acho que acabamos todos tendo que nos reinventar e acabamos sempre agregando novas expertises, mas nunca esquecendo que essa revolução digital não minimiza as relações pessoais e o palco/show ainda é lugar fundamental do encontro do artista com seu público.”

Izabela Costa: “Eu gosto muito desse movimento que a música promove, faz sentido que isso esteja sempre em mudança, já que a Arte por si só é um área muito vasta e sensível, qualquer atravessamento já pode mudar o curso das coisas. Eu sinto que meu trabalho mudou quando eu entendi que para além de um contato com a imprensa, eu também estava nessas equipes como uma consultora de conteúdos. Alguém com quem o artista ou a banda podem trocar figurinha e, sobretudo, elaborar estratégias criativas, sempre buscando fugir do óbvio e, principalmente, desenvolver algo que traduza o conceito da banda e/ou do projeto por si só.

Além disso, a gente tem que lembrar que, para a realidade brasileira, os últimos quatro anos foram praticamente nulos em termos de fomento e investimentos públicos na cultura, o que afetou bastante nossa cadeia produtiva. Aproximar artistas e bandas de marcas se tornou, para uma galera, uma importante fonte de recursos também. Nosso papel é estabelecer essas pontes e trabalhar no convencimento destas marcas do motivo de apoiar um projeto como aquele.”

Daniel Pandeló Corrêa: “Acho que mudou completamente. Como são múltiplas as possibilidades e estímulos, você tem que conhecer bem o que é o produto que está sendo divulgado – não somente em música, mas se for um show, uma peça, um livro, um filme – e saber qual o diferencial ali. Pois artista/criador lança algo vai ter muita gente lançando. Mas alguém lançamento aquela coisa ali, com aquela voz única, com aquele conceito, naquele momento, só tem um. É um desafio de achar a história certa.”

Em sua visão quais seriam as melhores práticas na hora de planejar um lançamento?

Daniel Pandeló Corrêa: “Acho que o principal tá ali: planejamento. Montar uma lista clara de tarefas e dividir com a sua equipe. E digo equipe mesmo. Pois uma banda é uma equipe. Muitas vezes trabalhos com uma banda que tudo fica em cima de uma pessoa só que fica sobrecarregada e não consegue atender ou até fazer tudo na qualidade que ela mesma queria. Tem muitas ferramentas de divisão de tarefas e trabalhos e acho isso importantíssimo para artistas, para conseguir até profissionalizar mais o seu processo criativo.”

Izabela Costa: “Acho que a primeira delas é estudar o calendário de onde você está e entender se o timing que você escolheu faz sentido. Por exemplo, lançar um disco no meio de um feriado de Carnaval ou Natal talvez não seja uma boa ideia, porque as pessoas estarão dispersas e boa parte do público não será captado.

Além disso, vale também entender sua força de engajamento e se beneficiá-la dela. Ou seja, se você é uma pessoa que rende bem digitalmente falando, lançar de 2 a 4 singles pode ser legal. Mas se você faz o tipo mais low profile, talvez seja mais interessante pensar numa divulgação mais pontual e breve, que abra o assunto de um jeito mais direto.”

Thais Pimenta: “Ter noção ou buscar profissionais que tenham noção do tempo dos processos.”

Flora Miguel: “Tempo: planejamento de médio prazo antes de começar a campanha de lançamento. Equipe conectada, com produção, assessoria, marketing digital, selo/gravadora/distribuidora trabalhando em conjunto. Flexibilidade para mudanças (elas acontecem) e antecedência, ou seja, ter tudo não mão – singles, disco, pré-saves, clipes, agenda de shows etc – previamente ao lançamento da campanha.”

Julia Ourique: “É duro ter que dizer isso para artistas em início de carreira, mas o mercado exige que se encare a carreira na música como um empreendimento. Por isso é preciso ter a organização que se exige em uma empresa, com um uso ostensivo de Excel, com planejamento de datas, gastos, previsão de ganhos, nome das pessoas responsáveis, e é preciso estudar, atualizar-se sempre.

Sites como o Algohits, o canal no YouTube da Tratore, e o site Hits Perdidos são espaços que fazem um apanhado de pontos importantes da indústria que o artista independente, em início de carreira, precisa ficar atento. Posso enumerar que é preciso atentar-se na hora de planejar um orçamento a:

Data – evitar lançar próximo a feriados nacionais e a grandes eventos, como o Lollapalooza, o Rock in Rio, o Primavera Sound, que desviam a atenção de toda a imprensa especializada em música para determinado evento. Claro, além de fugir da época do Carnaval e do Natal, simplesmente não rola. A menos que você seja a Beyoncé, claro. A ela nenhuma regra se aplica.

Imagens – é muito comum os artistas acharem que fotos no formato retrato ou repletas de conceitos são o suficiente para comunicar a sua arte. Mas não são. As fotos comunicam quem você é, onde você quer chegar, e quais fãs você quer conquistar. Fotos no formato retrato dão um trabalho extra para os repórteres na hora de recortar para caber no formato do site/portal/mídia. Dê opções de imagens (formato retrato e formato paisagem), seja criativo, e nunca mande imagens pesadas.

Presskit – É importante também entender que o repórter que vai receber o seu material não quer ter muito trabalho ao conhecer a sua obra. Portanto, facilite a vida dele. Deixe a sua música em um anexo, em uma pasta no Drive, se o seu clipe ainda não estreou, disponibilize ele em um link restrito, mas não ache que o repórter vai adivinhar que a sua música é boa só de LER sobre ela. Facilite o acesso do repórter à sua música, e deixe o seu trabalho conquistá-lo.

Texto – Por último, e não menos importante, o texto é essencial para comunicar a importância da sua música para o veículo, para aquela playlist concorrida, para chegar aquele canal de tv que você sempre sonhou. Vale a pena pesquisar um pouco mais e escolher uma assessoria de imprensa que faça um preço que cabe no seu bolso e que entenda que RELEASE não é um texto publicitário. Texto que elogia demais, o repórter do outro lado já desconfia. Assim, voltamos ao que falei no início desta entrevista: converse com os profissionais da sua área, é importante ter essa troca de informações para saber quais profissionais vale a pena investir seu suado dinheirinho.”

Piky: “De forma geral, ter um bom cronograma para aproveitar ao máximo as notícias em relação ao lançamento e levar em conta todos os veículos, hoje há muitos sites que antigamente seriam chamados de “pequenos” e que movimentam muito a cena de música.”

Qual dica daria para um artista em começo de carreira que está tendo a oportunidade de realizar seu primeiro trabalho ao lado de uma assessoria?

Piky: “Tente ter pelo menos dois videoclipes, mesmo que simples, pois os sites de música acabam priorizando lançamentos acompanhados de um audiovisual, tenha um show de lançamento marcado numa data próxima ao lançamento para reforçar o seu trabalho naquele período. É importante sair na mídia, mas é preciso que o artista continue trabalhando e fazendo shows. Mesmo que seja um sucesso na imprensa, claro que ajuda, mas é preciso que o artista esteja sempre se movimentando.”

Julia Ourique: “Puxa! Pergunta difícil, hein? Assessoria de imprensa é uma baita responsabilidade, você ali é ponte para realizar o sonho de um artista. Por isso, para o artista é importante contratar assessoras/assessores que entendam a importância deste lugar na indústria da música. Alguém confiável entre os artistas e também entre os veículos da imprensa. Que te explique exatamente o que você pode ganhar com uma assessoria de imprensa, sem promessas – porque realmente não dá para prometer nada nesse ramo – mas que te apresente as possibilidades, as oportunidades que você chega mais perto ao ter ao seu lado uma pessoa de assessoria de imprensa.

Tem muita gente picareta nessa área – como acontece em todas as outras áreas relacionadas à cultura, às artes – vale a pena confiar no trabalho anterior já realizado com outros artistas. Acompanhe os outros artistas do seu nicho e busque informações sobre quem está atendendo eles na assessoria de imprensa, esse boca a boca é muito importante na hora de selecionar a profissional que vai te atender melhor.”

Thais Pimenta: “Entenda que não é mandando e-mail hoje para algum veículo de imprensa que a resposta chega amanhã. Principalmente, se é um artista desconhecido. Existe um tempo para as coisas maturarem, por isso, quanto mais antecedência para mandar um email com uma sugestão de pauta, melhor. Então, não adianta ficar pressionando a assessoria, ninguém faz milagres (ainda) e ninguém tem a obrigação de te dar toda a atenção do mundo no tempo que você deseja.

Precisa ter essa noção para não frustrar. E não é saindo em determinado veículo que a sua vida vai mudar. Esse trabalho é uma construção. Claro que existem os fenômenos, mas isso é uma outra história. Fenômeno só é fácil pra galera que tem dinheiro pra comprar play, seguidores, etc. Senão é muuuuita estratégia e um bocado de sorte, além do talento que não pode faltar.”

Francine Ramos: “Paciência e pés no chão para criar uma base sólida do seu trabalho. Não tente se adequar à formulas, busque a sua verdade, trabalhe ela. Um trabalho com verdade sempre vai conseguir seu espaço. Aliás, todo espaço é válido, seja ele um blog, um portal, um jornal, rádio ou TV. Aliás, acho o blog bem importante, pois ele informa de fato quem gosta de música, além like. E não esquecer que o fundamental é manter sempre uma boa comunicação com o seu público, seja ele do tamanho que for.”

Izabela Costa: “Não acredite em assessorias que garantem um número específico de pautas publicadas, isso não existe. Procure um(a) profissional que te admire e ao seu trabalho e que também seja muito transparente ao explicar o que faz e como faz. Dialogue muito, troque figurinhas, mesmo! Quanto mais chances de vocês se conhecerem bem um ao outre, mais chances da assessoria conseguir gerar publicações que realmente te apeteçam e tenham a ver com você.”

Daniel Pandeló Corrêa: “Você está dividindo seu filho com outra pessoa para criar. É um trabalho de confiança. Então a dica que sempre dou para qualquer criador: converse com as pessoas, tente ver se o santo bate e se bater, confie. Sei que sempre é um momento que a insegurança bate, mas se você confiou naquela pessoa deixe ela trabalhar.”

Gostou das dicas sobre o trabalho de Assessoria de Imprensa?

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