#SpeedupSongs: entenda sobre a tendência que está fazendo artistas acelerarem suas músicas
Em um mundo onde tudo parecer vir mais mastigado e em velocidade acelerada, a música parece que se adequando aos novos tempos, ao menos para artistas da música pop. Nomes como Lana Del Rey, Demi Lovato e até mesmos os brasileiros Lou Garcia e Number Teddie estão experimentando a nova tendência #SpeedupSongs que consiste basicamente como apertar o botão de 1,5x numa mensagem de whatsapp só que em uma canção.
Remixes acelerados também estimularam recentes aumentos nas paradas, “Sure Thing” de Miguel (na verdade, um relançamento, sendo primeira versão lançada há mais de uma década), “Die for You” de The Weeknd, “Bloody Mary” de Lady Gaga e “It’s a Wrap” de Mariah Carey, além de aumentar o alcance para faixas como “Ceilings” de Lizzy McAlpine.
Remixes – estendidos para tocar em clubes, encurtados e aprimorados para o rádio – não são exatamente uma novidade. E os ouvintes assumindo o controle tem sido uma marca registrada da mudança para o digital. Tudo começou com covers de fãs do YouTube nos anos 2000 e progredindo na era do streaming para a resposta dos fãs, ajudando, por sua vez, as gravadoras a determinar em quais faixas focar para promoção.
#SpeedupSongs
- Tendência surgiu em versões amadoras criadas pelos próprios usuários das redes ganhou espaço, hashtags como #SpeedupSongs e suas variações bateram quase dez bilhões de visualizações no TikTok.
- O resultado é uma voz mais aguda (quase como efeito de gás hélio) e compassos mais rápidos, reduzindo sua duração para algo em torno de 30 a 40 segundos.
- Formato pensado para o compartilhamento em rede social e com a intenção primária de chamar a atenção de um público jovem buscando por informação mas na velocidade da luz, grudada em um smarthphone.
- Os próprios artistas e seus produtores entraram na onda com direito a versões oficiais já acelerada como é o caso de nomes como Michael Bublé, Madonna, Demi Lovato, Thundercat, Oliver Tree, Lana Del Rey e Mariah Carey que lançaram singles modificados em seus perfis, como no Spotify.
- A dupla de rock Cafuné, de Nova Iorque, estourou com “Tek It”; a versão acelerada agora tem mais streams do Spotify (143 milhões) do que a original (137 milhões).
- O Spotify por sua vez abraçou a tendência e criou uma playlist editorial (ou seja, criada pela própria plataforma) chamada Speed up Songs, que já tem cerca de dois milhões de curtidas.
O que diz a gerente global do programa de música do TikTok
“No coração do TikTok está a crença de que qualquer um pode pegar um som, tendência ou momento cultural e transformá-lo, remixá-lo e colaborar com outras pessoas para criar algo totalmente original e divertido”, disse Clive Rozario, gerente global do programa de música do TikTok a revista inglesa NME
“As pessoas inventam ideias, aproveitam nossos efeitos e usam sons que alguém do outro lado do mundo criou.” Rozario acrescenta que as pessoas não vêm ao TikTok apenas para consumir, mas também para criar: “Os fãs têm o poder de se tornar parte do processo de criação musical, que geralmente se manifesta em criadores que experimentam suas próprias versões aceleradas ou desaceleradas. .”
Ela ainda acrescenta: “Os remixes se tornaram fundamentais para impulsionar o sucesso dos artistas dentro e fora do TikTok, facilitando o amor da comunidade por experimentar criativamente novos sons. Ao acelerar as músicas, os fãs podem transformar uma faixa em um hit dançante ou um hino de ritmo acelerado, proporcionando uma abordagem totalmente nova de músicas de uma grande variedade de gêneros. Por sua vez, mais artistas e gravadoras estão aproveitando essas tendências, aproveitando os momentos ‘cativantes’ em versões remixadas e promovendo ativamente novas versões que decolam”.
“Vimos um número crescente de remixes acelerados e desacelerados decolarem no TikTok e depois serem lançados oficialmente, muitas vezes ajudando a impulsionar o engajamento com a faixa original e a aumentar as paradas”, explica Rozario.
#SpeedupSongs como ferramenta de marketing digital
Ashley Hoffman, profissional de marketing digital da Secretly Distribution, trabalha com artistas independentes para distribuir suas músicas em plataformas de mídia social. Recentemente, ela viu um aumento nos artistas se tornando proativos em vez de reativos quando se trata de criar versões noturnas de suas músicas.
“Acho que mais artistas começarão a ter essas versões aceleradas preparadas junto com seu lançamento original, em vez de os fãs lançá-las primeiro”, diz ela. Hoffman, que trabalhou diretamente com artistas que obtiveram sucesso com os remixes do TikTok, também tem uma teoria sobre por que os usuários estão sendo atraídos por essas versões em vez dos originais.
“Essas versões soam mais emocionais e emocionantes. É isso que os torna perfeitos para vídeos de mídia social em sites como o TikTok, onde você impede que as pessoas rolem a página chamando sua atenção e fazendo com que sintam algo.”, finaliza
As Gravadoras não ficam de fora da tendência
As gravadoras também trabalharam para obter visibilidade dos remixes acelerados lançados oficialmente nos serviços de streaming.
A Universal Music Group, por exemplo, iniciou a conta do Spotify Speed Radio para destacar suas faixas aceleradas, de acordo com Nima Nasseri, vice-presidente de estratégia de A&R do Universal Music Group; e tem mais de 9 milhões de ouvintes mensais. Outra conta, speed up nightcore, faz o mesmo para os lançamentos da Warner Music Group.
“Sempre que obtemos um desses remixes que tem tração, marcamos com ‘Speed Radio’ e isso apenas amplifica o crescimento. Essa é uma ferramenta muito valiosa para os artistas usarem.”, revela Nasseri em entrevista para a Billboard
“Há dois anos, eu diria que 5% ou 10% dos artistas eram receptivos a isso. Agora é provavelmente cerca de 70%.”, estima Nasseri
As experiências com artistas brasileiros
“A versão speed up é mais uma ferramenta para trabalharmos a construção de um lançamento e nos dá muitos insights sobre comportamento de consumo da audiência e acaba impulsionando a versão original ou até mesmo resgatando músicas de catálogo.”, explicou Leila Oliveira, presidente da Warner no Brasil, em entrevista para O Globo
O single “Não fosse tão tarde”, de Lou Garcia, dias depois de lançar a música, disponibilizou a versão speed no TikTok, e o resultado foi um aumento no números de plays em sua música original no Spotify, que hoje soma mais de 28 milhões de reproduções. A estratégia foi repetida em novo single, “Ainda te busco”.
“Quando lancei a versão speed, o brilho foi diferente. Por não ser algo natural, a música fica nitidamente alterada, as pessoas enxergam como algo mais místico. A música ganha outra vibe — diz Lou, acrescentando que isso teve influência até no lançamento de uma nova música original. — “Ainda te busco” tinha uns 3bpm ou 4bpm (batidas por minuto) a menos, era bem lenta. Aí a gente acelerou, e ainda não é a versão speed.”, relatou a artista
Já para o rapper Dreko que com o single “Ultimamente” que viralizou e tem mais de 25 milhões de plays utilizando a técnica (a versão original tem 6 milhões de execuções) diz: “Acredito que as pessoas estão se interessando por essas versões porque o mundo já está muito agitado. Então, elas trazem um certo conforto, porque têm uma energia que bate com o que você está vivendo.”
Number Teddie que se apresentou no Lollapalooza Brasil conta que sua música “Poderia ser pior” viralizou no TikTok numa versão speed criada pelos próprios usuários. “Lembrei que, lá em 2014, era muito grande a cultura do nightcore dentro do ambiente digital, e que isso poderia ter influência nessas versões aceleradas de agora. Consegui entender por que as pessoas escutam e como isso se converte em ouvintes para mim. Por enquanto, não quero lançar oficialmente. Acho que é mais legal se for um movimento espontâneo feito por fãs.”
“Já estamos colocando dentro do planejamento de marketing. Quando vamos lançar uma música, colocamos no cronograma que 15 dias depois vamos soltar a versão speed up para influencers divulgarem.”, diz Breder da dupla Hitmaker
Nem tudo é unanimidade
Existe um medo por alterar a percepção sobre a obra e qualidade artística por parte de músicos, Number Teddie até cita que versões soam meio como “Alvim e os esquilos”.
Rubel diz que mesmo simpatizando com a tendência diz que não lançaria oficialmente uma faixa acelerada: “Adoro essa trend, porque a música ganha uma cara nova. Por exemplo, o violão fica com registro mais agudo, parecendo mais um cavaquinho, a voz fica num timbre diferente… Não faria para lançar na minha plataforma digital, mas volta e meia eu boto para ouvir essas versões.”