Lista das Listas mede reputações através das listas de Melhores Discos Brasileiros
Há 10 anos Pena Schmidt criava a Lista das Listas. Na época ele atuava como Diretor no Auditório do Ibirapuera e buscava por uma métrica que ajudasse a validar as curadorias, já que dados de plays, likes e views se mostravam frágeis e de fácil manipulação. Algo que logo notou que tudo passava pelo âmbito da reputação, fator que as listas de melhores do ano conseguiam captar de forma singular. Outro parâmetro apontado ao longo dos anos é o fato de que os discos apontados pelas listas dificilmente fazem parte das listas dos “mais vendidos”.
O produtor musical, ex-executivo e diretor de gravadoras (esteve na Warner Music e é o responsável direto pelo surgimento dos Titãs, Ira!, Ultraje a Rigor, Magazine entre outros), também foi proprietário do selo independente Tinitus, ex-presidente de Associação Brasileira da Música Independente (ABMI), diretor de palco e proprietário da empresa de produção musical StageBrainz. Atualmente atua na Vida_Boa, pesquisa, consultoria e curadoria musical.
Em 2013 Pena começou a planilhar anualmente – e disponibilizar uma pequena amostra com os TOP 50 discos brasileiros citados ao longo do primeiro trimestre do ano seguinte – época em que as listas se encerram. No começo eram poucas listas que ao lado de Tassio Lopes, Gabriel Ruiz e Uirá Porã encontrava, mas ao longo do tempo notou que elas começaram a se proliferar.
São listas de veículos tradicionais, blogs independentes, rádios, podcasts, canais de youtube, páginas de instagram e até mesmo publicadas por pessoas comuns em suas contas no medium. Os formatos são variados, de listas individuais passando pelas coletivas de especialistas do ramo (de redações a um time de jornalistas convidados – como é o caso da do site Scream & Yell – também inclui outras que abrem a votação para o público do canal. O próprio Google possui uma baseada em seu monitoramento das redes, esta também é contabilizada e conta como uma lista.
Os resultados acabam refletindo nas programações dos principais festivais e casas de shows do país, servindo como ferramenta para medir reputações, entender fenômenos e mostrar a consistência de trajetórias artísticas.
O Contexto por trás da Lista das Listas
“Em 2010 eu era Diretor do Auditório Ibirapuera e fazia a curadoria e sua programação. Era uma batalha para conseguir descobrir e apresentar novos artistas, era impossível acompanhar as carreiras, ouvir todos e não tínhamos referências funcionando. Não haviam mais as paradas de sucesso de rádios nem vendas e ninguém confiava nos likes e views, facilmente manipuláveis. Anos depois, em 2013, fui colaborar com o “Toque No Brasil“, um programa/site que conectava artistas e bandas com casas e palcos, especialmente com os festivais, espalhados pelo Brasil todo. No ambiente das conversas sobre o TNB estavam alguns personagens que têm uma visão privilegiada do chamado Brasil profundo, os produtores de festivais e casas de música, onde circulam artistas de muitos estilos e extrações, onde se forma público para estéticas mais autorais e menos da indústria.
Conversando com esse povo que circula e partilha seu conhecimento e esperteza de lidar com arte e precariedade, fico mais atento ao que sucede fora da TV, fora da mídia, fora do negócio da música mas perto do público. Em SP, e no Rio, também temos lugares onde acontecem coisas que não se vê na TV, mas que geram resultados. Artistas que se desenvolvem porque existem circuitos de pequenas casas de música onde há curadoria que sabe reconhecê-los e buscá-los para sua programação.
Pois numa conversa sobre como criar critérios para avaliar estes artistas autorais apareceu uma ideia para avaliar “reputações”, reconhecidamente o mais forte valor para os curadores. Sim, curadores prestam muita atenção na reputação das bandas, no que se fala delas, em quem gosta ou defende o artista, no artista que consegue criar público, trazer público. Sim, existem valores estéticos e valores de produção também. O som da banda presta, mesmo que sejam 14 para viajar e hospedar? Apenas um pianista vai ser capaz de segurar a atenção, com o bar aberto? Ser curador, ou programador artístico envolve uma equação interminável, mas a reputação é fundamental para a decisão. E “listas de melhores do ano” são observadas pelos curadores.
As listas de melhores do ano ajudam a reputação dos artistas, claro. São uma declaração pública de importância, uma recomendação. Estes aqui são os que você tem que ouvir. As listas de melhores do ano contam pontos para a reputação de um artista e podem interferir na opinião de todos. Mas qual lista de melhores? A tradição privilegiava a imprensa especializada, a crítica, estas eram listas influentes. A lista da Rolling Stone que uma vez elegeu Macaco Bong. Mas hoje, essa multidão de sites de especialistas votando em listas próprias, todo mundo, os blogs de música, os caras que falam dos gêneros musicais, das bandas que passam por suas cidades, todo mundo e sua lista. Claro que cada um tem influência para seus leitores, o seu público. E cada um puxa sua sardinha para a brasa, rola brodagem e simpatia pelos parceiros. Os bons curadores são os que percebem as brodagens entre amigos e dão o desconto devido. Da mesma forma, os artistas movidos puramente a jabá, os artefatos comerciais, vem com CNPJ estampado, não fazem parte do universo dos artistas que se recomenda, dificilmente participam de listas de melhores, fazem parte das listas dos “mais vendidos”! E ainda, toda lista é parcial, fala apenas dos que conseguimos ou escolhemos para avaliar. E são listas de melhores discos, esta é também a tradição, é uma competição entre produtos iguais, os discos com 12 músicas, fenômeno anual.
Entretanto, os discos dos artistas de hoje são autorais, refletem 100% o desejo do artista, desapareceu o intermediário que representava o interesse do mercado na hora de escolher repertório, de fazer arranjos comerciais ou parcerias de conveniência. O artista autoral está inteiro dentro do seu disco. Portanto, listas de melhores discos representam sim os artistas, são listas de melhores artistas do ano.”, contextualiza Pena
A Lista das Listas
Sobre o desenvolvimento e evolução da Lista das Listas, Pena conta mais detalhes.
“Faremos uma lista das listas, vamos juntar todas as listas de melhores de 2013 que conseguirmos e vamos ver o resultado. Do grupo inicial do TNB que se dispôs a fazer junto, Tassio Lopes, Gabriel Ruiz e Uirá Porã ficaram algumas semanas juntando listas, depois segui com Ynaiã Benthroldo mais um pouco e terminei tabulando quase tudo, mas valeu o empurrão.
Foi uma captura de listas que chegavam até nós, depois uma captura mais aberta, procurando por “lista de melhores” no tuiter e no face, apareceram muitas contribuições de amigos e também de dentro dos sites eram recomendadas outras listas de sites amigos. No total foram 39 listas numa planilha, cada vez que um artista é mencionado vale um ponto, não interessa sua colocação na lista original. Essa coisa de ser melhor ou pior colocado na lista é importante só para o público daquela lista.”, detalha Schmidt sobre a primeira experiência em 2012
Os Critérios Iniciais
“No início, poucas listas foram descartadas porque eram extremamente fechadas em artistas de um único gênero, mas logo passamos a incluí-las. Outras listas saíram fora porque só tinham artistas estrangeiros. Em muitas listas não havia separação entre nacionais e estrangeiros, o que é justo, mas só trouxemos os artistas nacionais. Outras listas tinham melhores de várias artes, mas só trouxemos os da Música.”
Os Formatos das Listas
“Em 2014 Elson Barbosa, da comunidade Sinewave, se juntou à captura de listas e em 2017 o grupo foi se ampliando com a chegada do Rafael López do site Hits Perdidos e Juliano Polimeno da Playax e recentemente o Uri Daian, pesquisador da MPB. Ao longo do tempo foi se refinando o conceito e o entendimento do processo e das listas. Uma boa parte são listas individuais, pessoas que têm este olhar catalogante, jornalistas, profissionais que cobrem a área, blogueiros e amadores que se dispõem a organizar suas preferências e anunciá-las. Outra parte dos criadores de listas são coletivos, comunidades, ou comitês que se juntam no esforço de debater, compilar e promulgar uma lista dos seus destaques e preferências numa lista única. E ainda existe um número de listas que são consequência de apuração de votos de leitores, exercícios de democracia do gosto, algumas listas onde se votou numa pré lista organizada e em outros o voto é da livre escolha dos votantes. Como curiosidade, mas com razoável grau de acerto com relação à nossa #LdL final, bem coerente, juntamos uma lista que é o resultado de uma busca no google por “melhores discos de 2022” e vem uma lista de cerca de 50 discos, com uma apresentação especial das capinhas dos álbuns de música, como ele chama.
Mas como evitar distorções que pudessem vir de panelinhas, das brodagens ou de manobras ilícitas? Chegamos à conclusão que votações de grupos de interesse vão se diluindo no conjunto das listas. Sempre é uma constante preocupação de curadores não ser apanhados em manipulações que criam falsos públicos, tão comuns em likes e números de seguidores. Isto ficou fácil de perceber, pois existem listas que votaram apenas em discos de seu estado ou em gêneros bem estreitos, nestas listas aparecem alguns que se destacaram por serem votados em outras listas e é por isto que estas listas contribuem no resultado final, sem deformá-lo. Além disso, uma boa votação pode até ser resultado de um bom trabalho de divulgação dirigido, isto é lícito e mais ainda, saudável demonstração de profissionais trabalhando no ambiente da música autoral.
Então, temos um conjunto de obras da mesma espécie, sendo votado por outro conjunto de votantes razoavelmente heterogêneo, gerando uma espécie de estatística que está se dispondo a apontar os mais recomendados como melhores, no campo minado do gosto pessoal. Claro que isto não é rocket science, está mais para humanas. O que nos interessa mesmo é como a observação do fenômeno pode gerar entendimento, opiniões, e especialmente descobertas sobre o que acontece na Música Popular Brasileira neste momento.”, aponta Pena sobre o fator humano das listas
O TOP 50 da Lista das Listas de 2022
Artista | Número de Citações em Listas | Posição | |
1 | Planet Hemp | 48 | 1 |
2 | Tulipa Ruiz | 43 | 2 |
3 | Tim Bernardes | 43 | 2 |
4 | Xênia França | 38 | 3 |
5 | Terno Rei | 38 | 3 |
6 | Maglore | 36 | 4 |
7 | Bala Desejo | 35 | 5 |
8 | Alaíde Costa | 34 | 6 |
9 | Criolo | 33 | 7 |
10 | Ratos de Porão | 32 | 8 |
11 | Russo Passapusso, Antônio Carlos & Jocafi | 30 | 9 |
12 | Black Pantera | 30 | 9 |
13 | Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz | 29 | 10 |
14 | Gloria Groove | 25 | 11 |
15 | Fernando Catatau | 24 | 12 |
16 | Baco Exu do Blues | 23 | 13 |
17 | Anelis Assumpção | 23 | 13 |
18 | Tom Zé | 22 | 14 |
19 | Pelados | 21 | 15 |
20 | Bruno Berle | 21 | 15 |
21 | Urias | 20 | 16 |
22 | Rachel Reis | 20 | 16 |
23 | Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis | 18 | 17 |
24 | Ludmilla | 18 | 17 |
25 | Dingo | 18 | 17 |
26 | Josyara | 17 | 18 |
27 | Iara Rennó | 17 | 18 |
28 | gorduratrans | 17 | 18 |
29 | Deize Tigrona | 17 | 18 |
30 | Luedji Luna | 16 | 19 |
31 | Jair Naves | 15 | 20 |
32 | Djonga | 15 | 20 |
33 | Wry | 14 | 21 |
34 | Luneta Mágica | 14 | 22 |
35 | BK | 14 | 22 |
36 | Sessa | 13 | 23 |
37 | Leila Maria | 13 | 23 |
38 | Krisiun | 13 | 23 |
39 | Gabriel Ventura | 12 | 24 |
40 | Bruno Morais | 12 | 24 |
41 | Tatá Aeroplano | 11 | 25 |
42 | Mundo Livre S/A | 11 | 25 |
43 | Moons | 11 | 25 |
44 | MC Tha | 11 | 25 |
45 | Joyce Moreno | 10 | 25 |
46 | João Donato | 10 | 26 |
47 | Áurea Martins | 10 | 26 |
48 | The Troops of Doom | 9 | 27 |
49 | Otto | 9 | 27 |
50 | Ombu | 9 | 27 |
51 | Maurício Pereira | 9 | 27 |
52 | Karol Conká | 9 | 27 |
53 | Glue Trip | 9 | 27 |
54 | Crizin da Z.O. | 9 | 27 |
Entrevista: Pena Schmidt
A cada ano os resultados acabam convergindo com nomes em line ups dos principais festivais brasileiros e também na programação de redes importantes de fomento como a programação dos SESCs e de casas importantes para o indie e midstream. Como observa esses dados e como vê que isso dá ainda mais credibilidade e voz ao trabalho diário dos jornalistas culturais?
Pena Schmidt: “Esta foi uma constatação que o tempo mostrou fazer sentido. Os artistas que surgem no Top 50 da #listadaslistas vão participar nos festivais do ano seguinte. Os artistas que costumam frequentar a #ldl em anos diferentes são os mesmos que também frequentam com constância os festivais e a programação dos SESCS e casas de música de prestígio. Isto confirma um dado importante.
Os artistas que fazem um trabalho impactante no disco, capaz de ser lembrado ao final do ano, são os mesmos que criam espetáculos também impactantes, são os artistas maduros em seu tempo e isto não depende de estrutura comercial mas de sintonia com o zeitgeist, com o público. Não estamos falando do sucesso comercial, mas do sucesso no contato com o público, na aclamação do espetáculo.
Artistas que fazem maus espetáculos não são chamados para este circuito de programadores exigentes e cuidadosos, cujas escolhas são confrontadas com o público. Consistentemente, as listas que se parecem com o resultado final da Lista são de jornalistas, criadores de conteúdo e críticos dedicados na área da música, os especialistas bons de sintonia.”
Além do TOP 50, a lista acaba reunindo discos que com 5 ou 6 votos acabam alcançando o TOP 100. Alguns destes artistas acabam aparecendo novamente ao longo do tempo em futuras listas, seja com o projeto listado ou com um novo em posições mais altas mostrando de certa forma uma construção de carreira. Esse tipo de métrica é ótima para explicar tanto o momento mas também o estágio da carreira, já chegou a mensurar se as grandes gravadoras eventualmente chegaram a assinar com artistas a partir disso? Como observa que isso pode contribuir para o trabalho de base?
Pena Schmidt: “As estatísticas anteriores mostram que o Top 50 da #ldl tem muito poucos artistas contratados de grandes gravadoras, vale dizer que ainda não verificamos em 2022. Isto tem uma explicação simples. As grandes gravadoras não estão preocupadas com o nível artístico ou com qualidades que são valorizadas nas listas de melhores do ano. Seus artistas precisam ser apenas bons vendedores ou conquistadores de mega audiências, os chamados artistas com qualidades comerciais. Nestes 10 anos de #ldl, é um fato que estes artistas não são suficientemente recomendados como melhores do ano, por mais incrível que tenha sido sua performance, não conseguem indicações suficientes para subir na #ldl.
Artistas de carreiras longas, que eventualmente já foram sucesso, medalhões da música popular, estes porém, causam impacto suficiente com seus trabalhos atuais, são lembrados e sobem ao Top 50. Em 2022, tivemos Alaíde Costa, João Donato, Tom Zé e Mundo Livre S/A, sem falar do primeiro colocado, Planet Hemp, que retornou depois de uma ausência de 20 anos.
Nesse contexto a #ldl pode apontar para carreiras longevas em construção, sem dúvida. Luedji Luna, BaianaSystem, Liniker, Boogarins, por exemplo, são artistas em que é nítido este crescimento de carreira, inclusive indo para o exterior.
Não temos acompanhado de perto a vida fonográfica, as contratações pelas majors, é um projeto interessante, para avaliar se investem nos artistas que são apontados na #ldl.”
Para você, quais foram as grandes surpresas e descobertas da lista de 2022?
Pena Schmidt: “Todo ano temos uma mesma surpresa que se repete. Como é ampla e diversa a música popular brasileira!
O Top 50 não se repete, mas sempre surpreende por isto, por permitir juntar tribos tão diversas. Temos um meio de campo de artistas altamente representativos, carreiras e linguagens bem definidas e ativas, consolidando uma MPB contemporânea, que vai se transformando em um novo gênero.
Planet, Tulipa e Tim na ponta de lança. Xênia, Terno Rei e Maglore na zaga, Bala Desejo, Alaíde e Criolo na defesa. Isto é uma verdadeira Seleção Brasileira. Um festival que tivesse este elenco seria sucesso em qualquer lugar do mundo.”
Como sente que a pandemia que obrigou os artistas e gravadoras a darem maior importância ao digital como fonte de renda contribuiu para maior atenção a estratégia de divulgação dos lançamentos? Inclusive a renda em streaming no país, segundo pesquisa do Pro-Música, tem aumentado ao longo dos últimos anos, assim como também aponta o relatório da MIDia Research no campo global, com um interessante dado que os selos e artistas independentes tem tido um crescimento mais expressivo que as majors. Acredita que tem muito potencial a ser explorado ainda? Vê que isso acaba refletindo mesmo que de forma indireta nos discos apontados nas listas?
Pena Schmidt: “A pandemia forçou uma adaptação rápida a circunstâncias prejudiciais. Durante dois anos a música ao vivo foi suspensa. Artistas e público viveram uma experiência de lives e presença digital. Isto não se refletiu nas #ldls de 2020 e de 2021 como se pode ver pelos 5 mais indicados de cada ano.
Em 2020 foram Luedji Luna, Kiko Dinucci, Marcelo D2, Jup do Bairro e Letrux. Em 2021 foram: Juçara Marçal, Marina Sena, FBC & Vhoor, Duda Beat e Caetano Veloso. Artistas que fizeram discos afinados ao tempo, independente de sua presença em palcos. Vale dizer que de alguma forma tiveram presença marcante em livros, explicitamente Caetano Veloso.
A convivência com o digital trouxe, como você disse, atenção às estratégias de lançamento digital e aperfeiçoou o processo de apresentação do trabalho digital na forma de singles, onde se concentra o movimento do streaming. Por isso não alterou o panorama dos indicados a melhor disco do ano, os Álbuns.”
A democracia das listas sempre foi algo a ser visto, desde a pluralidade de gêneros musicais, e regiões do país, mas também tendo artistas que tem uma diferença substancial de plays nos streamings. Sejam eles independentes ou assinados com as majors. O que acaba por sua vez na época da divulgação das listas de fim de ano ocasionando picos de execuções. Como observa esse fenômeno? Já pensou em traçar um perfil mais detalhado sobre quem são os “listeiros” e o impacto das listas individuais?
Pena Schmidt: “Já temos um acumulo de dez anos de listas e listeiros. Durante este tempo, cerca de 500 listeiros votaram, nesta #ldl 2022 capturamos 117 listas. Muito poucos votaram todos os anos, Popload, Scream & Yell, Tenho Mais Discos Que Amigos, La Cumbuca entre outros. Os veículos da mídia tradicional, jornais, rádios e revistas têm suas listas, mas nenhum manteve sua lista sem interrupções. Em 2018 fizemos um estudo sobre as listas que obtiveram mais coincidências com a lista final do Top 50. Seria interessante continuar este estudo, é um verdadeiro mapa que mostra no que se transformou o jornalismo musical. A maior parte das listas vem de sites com o nome na URL, os fanzines que se mudaram para a internet.
Outro estudo que fizemos era ver como os artistas do Top 50 se comportam no streaming, que mostrou que não há um padrão, temos de tudo, artistas com pouca presença no streaming e outros com fluxos intensos, devido ao fã clube, à um vídeo bombando ou qualquer fenômeno da viralidade.”
A colaboração entre artistas acabou nos últimos anos contribuindo dentro da estratégia e posicionamento digital dos artistas. Na lista de 2022, por exemplo, artistas como Baco Exu do Blues, Tulipa Ruiz, Planet Hemp, Russo Passapusso, por exemplo, acabam utilizando de feats dentro dos seus discos, o que em alguns casos é levado para os palcos dos festivais ou shows quando os artistas estão na mesma cidade. Essa tendência já foi captada pela lista? Como ficou a divisão por estados, regiões e gêneros deste ano?
Pena Schmidt: “Não, a #listadaslistas não segue os feats, poderia, mas requer recursos que não contamos. Ainda não levantamos a geografia dos Top 50, mas costuma ser bem espalhada no país.”
Em tempos de inteligência artificial, você até adora brincar com o chat GPT 4, e até a lista do google acaba sendo gerada a partir de uma média de indicações de listas automaticamente, como acredita que a sensibilidade e o lado crítico do humano ainda se faz importante na hora de avaliar e listar os melhores do ano?
Pena Schmidt: “A #ldl lida com um fator extremamente humano, a capacidade da música de influir nas emoções, causar uma impressão na psique que dispara o gosto, a preferência. Muitos fatores externos entram na confecção de uma lista de melhores discos brasileiros do ano, a intenção de causar um efeito nos leitores, a vontade de incluir uma amizade, a influência das mídias e os interesses imediatos. Mas é uma eleição tão sem compromissos que acaba sendo isenta. Ninguém ganha de fato muita coisa por ter sido incluído. No fim prevalece o desejo sincero de apresentar uma seleção de discos que julgamos merecer sua atenção. É este ponto que faz a soma de milhares de votos sinceros acabar sendo estatisticamente sincera, honesta, isenta. Nestes anos não conseguimos identificar algum resultado que tenha sido fruto de marketing ou de manobra. Discos bem divulgados, espalhados pelos listeiros, tem mais chances, mas nada garante, a não ser a música.
Nesta época de algoritmos sensores de sentimento, baseados na soma de milhares de impressões fugazes, tuites e posts, legendas de fotos e até mesmo com a leitura dos emojis, é possível ter alguma precisão na chamada sentimentação, mas isso não consegue interpretar a reação das pessoas ao ouvir uma música. Confio que a lista de melhores discos do ano ainda dura como construtora de reputações.”