Wesley Camilo assina com a AlgoHits e apresenta o single “Tão Bem” em parceria com Budah
Com carreira iniciada em meados de 2010, o músico, cantor, produtor e compositor Wesley Camilo (Ouça no Spotify) tem uma trajetória de aprendizados e uma escola que celebra a música preta, passando por uma vasta pesquisa pela história do R&B, soul music, rap, hip hop entre outros gêneros musicais, a nível nacional e internacional.
Natural de Osasco (SP), ele está nas vésperas de lançar seu primeiro álbum de estúdio via AlgoHits, este que levará o nome de Presente – explorando as várias características semânticas da palavra.
No papo ele contou mais sobre sua trajetória na música, das primeiras produções ao faça você mesmo, entrando com mais profundidade sobre suas origens, identidade musical, desafios, parcerias e o momento da carreira.
Nesta sexta-feira (16/09) em parceria com Budah, Wesley Camilo apresenta o primeiro single “Tão Bem” via AlgoHits.
Entrevista Wesley Camilo
Você começou a aprender a produzir na base do “faça você mesmo” como necessidade para lançar seu primeiro trabalho, como foi esse processo e as dificuldades que teve que enfrentar pelo caminho? A partir de que momento começaram a existir convites para colaborar com outros artistas?
Wesley Camilo: “Posso dizer que faço parte de um momento da história, né? No que diz respeito, não só um momento político, mas também do momento tecnológico. E eu vejo que isso proporcionou a possibilidade de eu conseguir materializar meu som sozinho, sacou?
Essa coisa dos computadores, a interface de áudio, né? Antigamente era muito difícil você gravar uma parada, né? Você sair com um som pronto, você precisava inevitavelmente ter acesso a um estúdio. Eu acho que isso me facilitou muito, na verdade, foi isso que possibilitou essa chegada e popularização das interfaces, dos equipamentos de gravação caseiro, ter um home estúdio…acho que foi esse o ponto principal.
Eu conheci um cara que o nome dele é Silvera. Silvera é um cara maravilhoso, é uma das minhas principais referências tanto no meu trabalho autoral, como também como produtor. Ele tem um trabalho autoral, foi um dos primeiros caras que eu vi fazendo R&B, Soul, assim tipo, contemporâneo. Porque a gente tem referências do soul nacional que é o Tim Maia, o Cassiano, o Djavan e tal…, mas o Silvera tem uma coisa mais de expertise mais de beatmaker, produtor e o som mais eletrônico, ao mesmo tempo tocando instrumentos e tal. Ele é uma grande referência.
E eu lembro que eu o conheci pessoalmente em 2010, 2011, e o amigo em comum que nos uniu ali naquela situação, a gente tinha uma espécie de escola de música que a gente também tentava trazer uns fotógrafos, umas pessoas que faziam vídeos (isso em 2010). E aí a gente tentava juntar a galera que queria fazer um som. O cara que queria fazer uma aula já dava um acesso para ele ter uma sessão de fotos com alguém, que era justamente uma coisa que não tinha tanta acessibilidade, principalmente onde a gente morava, em Osasco (SP), uma cidade aqui vizinha, aí o Silvera colou (sic) por conta desse meu amigo, o Felipe, que fazia design já na época para conversar sobre a capa de um trabalho dele e aí nesse dia ele mostrou um som pra ele, sacou? E eu fiquei muito envergonhado, fiquei muito bravo, e aí a gente meio que começou a trocar daí.
Ele tinha um projeto (que ele tem até hoje) de um selo dele, que foi por onde eu lancei o meu primeiro EP, e a princípio a intenção, o meu sonho e o combinado era de que ele produzisse esse EP. Só que como ele é um cara que tem uma agenda muito concorrida, tanto para produzir como para colaborar, gravar vocais, gravar instrumentos e tal…eu vi que se eu não metesse mão eu ia ter dificuldade, enfim, ia demorar mais.
Aí comecei a produzir e mostrar para ele que foi me dando toques. E não só ele, outros amigos também que sempre compartilhei as coisas. E foi mais ou menos isso aí. Eu sempre gostei muito de não ter a sensação de estar dependendo na vida em si, e na música não foi diferente. Então eu fui atrás de aprender a tocar um instrumento para poder cantar, porque eu queria cantar e não depender de alguém para poder tocar. E assim também aconteceu naturalmente também com a produção.
Agora as colaborações, o fato de eu ser músico acabou me conectando com outros artistas. Já trabalhei de diversas formas na música, desde agência de casamento a trilhas sonoras, e o fato de eu tocar me conectou com outras pessoas e isso que possibilitou essa onda de contribuir.
Foi um processo longo de entender as funções do processo de gravação, o diretor musical, o produtor musical, o editor, o arranjador, o instrumentista…o que esses caras fazem, né? Demorou um tempinho para entender isso aí, rolaram algumas cabeçadas pelo caminho…
Foi bem natural porque o som que eu queria fazer, eu queria buscar uma sonoridade. Eu vivi numa entressafra dos instrumentos acústicos, os instrumentos eletrônicos, as máquinas de programação de beats, e tal. Eu tava nesse momento e isso meio que influenciou como eu ia materializar as minhas coisas. Foi natural, comecei a tocar e depois em me conectar. Inicialmente eu dava aulas de música na igreja e depois eu comecei a dar aulas de música em escola de música, e tal. Ou seja, a conexão com outros trabalhos e o entendimento do que as outras pessoas querem para materializar as coisas foi uma vivência bem natural. E foi assim porque a vida foi me colocando nesses lugares. No lugar de músico instrumentista, no lugar de arranjador de estúdio…”
Apesar de já ter trabalhado nomes gigantes e emergentes do rap, e do pop, você traz na sua sonoridade do seu trabalho solo ritmos e pesquisa bastante focada no soul e no R&B. Como vê a movimentação dos artistas do estilo e a luta por maiores espaços dentro da música nacional?
Wesley Camilo: “Eu acho que é muito de a gente vir de um resultado de uma consequência histórica. Eu falei do recorte tecnológico e acho que isso influência no momento crescente dos derivados da música preta, essa coisa do R&B, soul, neo-soul, as misturas que vão proporcionar novas sonoridades, o cara tá no Brasil e coloca uma pitadinha de pagode baiano, uma pitadinha pagode anos 90, uma pitadinha de ritmos que tem sua raiz africana, como o afoxé, e isso eu diria que é resultado de uma coisa que se desenvolveu historicamente.
Eu cresci com um estigma muito louco. Ouvia isso das minhas referências, dos caras que eu tinha como a minha referência. Que esse som não rolava no Brasil, que o Brasil não ia absorver. Hoje eu enxergo que isso foi de certa forma uma forma de sabotagem que os selos colocavam. Porque a música, da hegemonia, da cultura da massificação, de uma sonoridade, que leva para a lógica de exploração de recursos…você vê tipo assim como o sertanejo hegemônico e tudo que surge como uma tendência eles agregam e continua ali fazendo a máquina rodar e massificando e a cultura sendo massificada e tal.
Quando eu cresci eu tinha isso muito na minha cabeça de falarem “nossa, não vai rolar no Brasil porque a galera não absorve” …só que hoje eu vejo que isso era uma sabotagem mesmo porque isso possibilitava que esses artistas que tinham essa influência preta que tinham muita habilidade vocal, muita habilidade harmônica, muita habilidade rítmica servisse como mão de obra para os artistas dessa “elite” que eu não considero como elite, basicamente era isso. Ou seja, você só tinha espaço na música para trabalhar como backin vocal de alguém porque você cantava muito, sacou?
Só dar um google e ver as bandas de mainstream e ver que está vestido de preto. E vejo que hoje em dia tem esse espaço pelo lado tecnológico e também todo o movimento de representatividade, empoderamento, do povo preto, né? Hoje em dia a galera tem a autoestima para falar “eu vou fazer a minha parada”. Eu tenho condições por mais que o Brasil esteja passando por uma situação difícil, hoje em dia se tem condição de fazer a sua parada. Porque antes a única opção que se tinha para quem era pretão era fazer alguma coisa que servisse bobo como corte ou ser prestador de serviço. Esse era o espaço que se tinha. E eu vejo que a crescente desses artistas, não é que hoje o Brasil aceita o R&B, não, Brasil sempre aceitou o R&B, ele está no mainstream no Brasil desde sempre. Se pegar os artistas do mainstream os recursos de vocal, de técnica, vem dessa fonte, que é uma cultura de exploração mesmo. Você vai lá pega recurso, trás, esgota esse recurso, vai lá busca mais recurso, explora, esgota, vai nesse lógica doida.
Eu vejo que hoje em dia isso tá mudando um pouco muito por essa chegada dos equipamentos, esse empoderamento, representatividade e essa democratização que é a distribuição digital que por mais que o algoritmo não deixe tão democrático, pelo menos hoje existe a possibilidade de eu ter a mesma música que o Justin Bieber e os grandes artistas internacionais. Por mais que eu não tenha o apelo de marketing que ele tem. Essa possibilidade não existia. Então eu acho que é o resultado de várias coisinhas. Tecnologia, essa sensibilidade para a distribuição, autoestima, se entendendo e se aceitando melhor, discutindo mais sobre essas questões subjetivas de estrutura desse Brasilzão de meu Deus. Então é isso, eu vejo que essa crescente acontece por conta de vários fatores que se juntam para dar esse resultado. Que você olha hoje em dia para Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, tem uma galera, o R&B sempre esteve por aí. Você tem o Tim Maia de um cara que aconteceu e a indústria fonográfica fez um serviço de desconectar dele todo mundo que fizesse música preta: “O Tim Maia é um fenômeno. Ele tá distante de todo mundo, não tem uma linha do tempo que trace uma continuidade para essa sonoridade. Não existe, o que vai tocar na rádio, é isso, isso e aquilo outro. Se você quiser trabalhar vai ser como funcionário. E é isso, ponto.”
Hoje eu vejo que essa gama de artistas que tá vindo, tá religando lá na essência. Por exemplo, eu falo bastante do Tim Maia, e esses artistas também porque é uma referência muito grande que a gente tem. Esses caras como Cassiano, Hyldon, Djavan, esses caras são a música preta. Não é uma música que aconteceu, o cara é um fenômeno, não, existe uma continuidade, é um gênero que é consumido, é uma parada que tem sustentabilidade, não é uma loucura, não é uma coisa que não vira no Brasil. Eu vejo que é a resposta que a história tá dando.”
Dentro do R&B, quais artistas acredita que já mereciam ter maior visibilidade e quais gostaria de poder trabalhar junto…seja num feat ou participando da produção?
Wesley Camilo: “Eu não consigo pensar dessa forma. Achar que fulano tinha que ter mais visibilidade. O que eu penso é que existe um movimento automático do sistema para isolar qualquer possibilidade nova, isolar e criar como um caso de exceção e com o tempo esvaziar isso. O que eu vejo que para mim é um desejo, mais do que visibilidade para uma pessoa duas ou três é a criação, fortalecimento e fomento de uma cena que foi o boom que proporcionou até isso.
O boom que aconteceu com o rap, se você ver nos últimos 10 anos começou a acontecer a cultura das cyphers. Você assistia uma cypher com 9 rappers por conta de 1 rapper que você conhecia, e você conhecia por conta um rapper que você conhecia e você passava a conhecer outros 8. Isso foi criando uma cena que possibilitou um boom do rap. Hoje o rap é um dos estilos mais populares do mundo, junto com as suas vertentes, tem o trap, mas para mim tudo parte do mesmo lugar, da mesma essência.
Então, esse boom proporcionou pela semelhança parental dos estilos, alguns artistas de R&B despontaram também como, por exemplo, o Luccas Carlos, que é uma das referências do gênero. Ele despontou por estar mais próximo do rap, do movimento que a cena estava fazendo. Então o que penso hoje mais do que querer mais visibilidade para um artista ou outro é essa coisa que eu estou fazendo também, me disponibilizando mais para atuar no cenário do R&B já tendo uma caminhada no rap, por esta ser a sonoridade que eu sempre fiz e amei fazer só que o rap tem uma semelhança muito grande. Ele bebe do R&B. Aqui aconteceu o contrário dos EUA, o R&B e o soul dão origem ao rap, e aqui e o soul acha espaço no rap, nos refrões, e a partir daí vai se criando uma parada para se emancipar. E até para isso é a coisa que acontece, se isola e se esvazia. Então, eu penso que é isso, mais que querer que um artista tenha mais visibilidade para um artista ou outro, é essa parada de querer ver essa cena funcionando. As pessoas se interligando, contribuindo no trabalho do outro, se vendo, trocando genuinamente, sem o viés de competição que é isso que fez o rap acontecer e tem acontecido ultimamente, que é o que eu penso para o R&B.
Tem alguns artistas que admiro demais e gostaria de fazer parcerias como a Liniker, o próprio Luccas Carlos que a gente tem agora uma proximidade com algumas coisas que eu comecei a fazer, comecei a trabalhar junto com o Hodari, e me aproximei mais dele, a gente já tinha trocado algumas ideias, e já tínhamos tentado fazer algumas coisas junto. É um cara que eu quero muito trabalhar porque sou muito fã, admiro demais, sou muito grato a contribuição que ele tem para essa cena de R&B, o Luccas. Liniker, Majur, talento muito lindo, o próprio Chris, de Minas, muito bom, tem muito artista talentoso. Gloria Groove, isso é R&B puro!
Esse grupo de potências, a gente tá no mesmo lugar, se fortalecendo, e a gente só tem a ganhar com isso, do que apenas destacar um ou outro, sacou? Isso é uma forma legal de chegar com a sonoridade. Todos têm em comum a sonoridade, a alma, a música, o soul, o R&B!”
No seu disco, Minhas Verdades, você diz logo na introdução sobre sua descoberta da música, desde a igreja, passando pelos bailes de soul até as primeiras produções. Como foi o seu envolvimento com a parte de aprimorar técnica vocal e passar a lecionar? Você vê cada vez mais artistas buscando maior profissionalização nesse sentido? Como vê que pode contribuir neste processo?
Wesley Camilo: “Uma parada que eu descobri com o tempo é que você precisa ser você, né? No começo da vida, na fase da adolescência você não quer ser você. Você não ter sua família, não quer ter sua cara, não quer ter sua cor. Você não quer ter nada que você tem. Você não quer ser você, porque é essa crise de identidade, né?
Com o tempo eu descobri que a melhor coisa que a gente faz, inclusive no novo disco eu até coloquei uma frase, “só você mesmo pode ser você”, no mundo inteiro só você pode ser você. E eu penso que é isso, a minha vivência, a minha trajetória me proporcionou uma visão para pontos que às vezes não era todo mundo que estava olhando, mas automaticamente é uma coisa que tava ali como verdade minha e o fato de trazer isso gerou identificação em outras pessoas. E como eu falei eu tenho essa vivência da igreja e minhas referências têm muito disso da técnica vocal, muita referência americana, e a música, até estava falando isso para um amigo ontem, foi quem me colocou no meu lugar, que me situou.
Eu sempre fui uma criança inteligente, sabe aquela criança inteligente que quer saber o porquê de tudo, quer explicar o que sabe, e que em alguns momentos é até chata…porque a criança tá no lugar de aprendizado, né? Se ela fica muito “inteligentona”, querendo se intrometer nos assuntos dos adultos, é uma parada que vai contra a natureza e o caminho da arrogância é muito próxima dessa linha. É uma linha tênue. E aí eu tenho um registro muito forte na minha mente que é essa coisa do canto mais elaborado com técnicas, melisma, troca de registro, impostação, e tal, e isso quando eu conheci foi um tapa na minha cara porque eu sempre cantei desde pequenininho, meu pai cantava desde sempre. E aí eu era aquela criança que tinha facilidade para cantar, eu tinha afinação e desdenhava isso. Isso não era uma coisa que eu tinha paixão, nem amor.
Eu ficava cantando com as crianças, fazia segunda voz, nem sabia o que que era, mas para mim era natural. Quando eu comecei a ter acesso a esses cantos mais elaborados, isso me pós no lugar para dizer que a música é muito mais ampla do que eu imaginava, e isso me desafiou a querer buscar e fazer uma coisa que eu não conseguia fazer. Me desafiou, me tirou do lugar. Eu acho que foi isso que fez eu começar a estudar.
E ao começar a estudar a igreja é um lugar interessante porque ela fomenta a prática da música. Se você pensar que uma igreja evangélica, que eu tenho vivência, uma igreja evangélica comum tem ao menos 2 ou 3 cultos por semana. Para as pessoas que mexem com música, seja do grupo de crianças, ou de adolescente, ou de jovens, ou de irmãs ou a orquestra, vai ter no mínimo 2 ou 3 ensaios para esses 2 ou 3 cultos. Então você pensa que são 6 dias que você tem contato com música e no sétimo dia você tá em casa ensaiando para chegar no ensaio bem. Então é uma prática musical muito diária e isso proporciona muita coisa, muita evolução. E como eu era uma pessoa que tinha um certo interesse você passa a ter destaque. E nessa de ter destaque os líderes começa a notar…e vem traço de liderança, de entrega maior…e me colocaram como líder da parada e eu comecei a organizar os ensaios. A galera que tinha um pouco mais de dificuldade de pegar em conjunto me procurava após o ensaio “pô irmão, não tem como você fazer uma orientação fora porque eu gostaria muito de cantar no coral e não tenho tanta habilidade e não gosto de ficar boiando no ensaio e gostaria de te encontrar em outro dia da semana…”. Eu comecei a dar aula desse jeito, dando pequenas orientações para quem queria continuar a cantar na comunidade religiosa, e aí com o tempo o coral foi ficando legal e fui me conectando com amigos da música e aí comecei a dar aula em escola de curso livre. Isso foi meio que naturalmente me conectar com outras pessoas, comecei a fazer agência de casamento, a tocar na noite, comecei a tocar no pagode para caramba, acompanhei outros artistas e assim foi rolando até eu conseguir criar essa identidade que me proporcionou esse primeiro trabalho.
No EP eu falo “eu não sei de onde que veio só sei que chegou o momento que eu tava dentro e não tinha mais como viver fora”. Eu sempre fui muito crítico, e aí em dado momento que se eu não fizesse a minha parada eu ser mais um cara chato que fica falando mal do trabalho dos outros. Tem um monte de gente que é assim, que tá frustrado, não conseguiu fazer e fica julgando o que as pessoas tão fazendo, então, para não cair nesse lugar, até por provocação de amigos, eu comecei a fazer a minha parada. Para não ser esse cara chato que fala mal de todo mundo, é dono da verdade, mas não se expõe. Não bota a cara. Porque você fazer uma parada e botar seu nome lá, colocar a sua cara, é uma exposição. É uma coisa que é delicada, é complicada. Por conta desse conhecimento eu me tornei uma pessoa bem crítica. Talvez até isso esteja muito ligado com a minha personalidade também, signo e essas coisas…e isso me colocou no lugar de um cara chato se eu não fosse meter a mão na minha parada. E quando eu coloquei a mão na minha parada mais uma vez a música me mostrou mais uma vez que não é tudo tão simples assim. Não é só você fazer a música ali.
Se você tem um trabalho autoral aí entra o relacionamento, a identidade artística, entra a identificação com a base de fãs e um monte de coisas muito além de fazer música. O Emicida tem uma frase muito linda que eu gosto muito “Afinal, fazer rima é a parte mais fácil”. Fazer o que você gosta, que você dedicou tempo para caramba, é a parte mais fácil, tem um monte de outras coisas que você precisa prestar atenção. E no autoral tem disso, né? Precisa entender essa parada. A primeira delas é que no começo você não rentabiliza. Então se você quiser viver de música você precisa fazer um outro meio para rentabilizar para você fazer a sua parada. Ou você precisa trabalhar com outra parada e aí você está vivendo em dois mundos diferentes. Eu acho o corre da música não tão fácil, não vou dizer que é muito difícil para não materializar, mas eu penso que o pessoal que faz o corre artístico que arranca recurso de outra parada e bota para a música e vai e trabalha e trabalha, esse pessoal é heroica. Para mim não foi tão fácil, mas eu sempre tive ligado a música. De um jeito ou outro. A renda ou vinha de uma aula, ou de uma trilha sonora, ou de um evento, ou de uma gravação e isso tava me dando repertório para criar a minha própria identidade.
Eu acho que a nova geração tem uma autoestima aflorada. Eu tava muito tempo sem assistir TV, aí eu vi a Globo e não é a Globo que eu cresci assistindo. Você tem uma diversidade muito maior, você tem as coisas ali, aí quem está crescendo, vindo como artista agora, se vê representado, a síndrome do impostor pega bem menos então é muito mais fácil desenvolver uma identidade. Então eu penso que a galera muito mais nova tem mais facilidade com essa autoestima de se defender numa característica artística e tal. Mesmo que todo mundo esteja falando o contrário o cara está ali seguindo mesmo. É uma renovação, é uma nova forma de formar o ser humano. E dá outros resultados. Vejo que isso da identidade está atrelado a autoestima e tem todo um mercado em volta.”
Você está para lançar o primeiro single do novo trabalho através do selo AlgoHits, como tem sido essa parceria e que frutos já vê que está colhendo com a parceria?
Wesley Camilo: “Isso é incrível! Eu tô gostando muito porque assim é muito louco para você ser um artista você precisa das duas uma “ou você se fecha na sua arte e não sabe de nada do que está acontecendo com a sua parada só tá fechado em fazer aquilo, não sabe como as coisas se dão, e aí está mais vulnerável a decisões que vão implicar na sua arte. Ou você tem essa opção. Ou você tem a opção de querer saber mais sobre o que tá por trás, como você vai se conectar, como você vai atuar, como você vai ser visto e tal. Que eu acho que é um pensamento com que eu me identifico mais. Hoje você tem muitos artistas com o seu selo próprio, porque querem desenvolver coisas e querem se associar a marcas e a projetos que tão de certa forma caminhando com aquilo que está sendo construído. E é business, é negócio, são um monte de coisas.
O fato de agora ter uma galera me possibilita depois desse tempo de ter essa experiência, de saber o que que o artista precisa para acontecer, eu ter uma galera exercitando a sua função em alta performance, porque a AlgoHits tem um aparato e expertise de entendimento dessa plataforma digital, dessa coisa do algoritmo, de alguma forma, fazer isso o mais orgânico possível, por mais que seja uma coisa programada, eu vejo que é uma necessidade imprescindível hoje em dia né?
Você ter uma boa relação com a plataforma digital. Então, você ter uma equipe qualificada para trabalhar junto para mim é o melhor momento da minha carreira. Esse álbum que tá vindo, eu comecei os lançamentos, eu já tinha lançado dois singles, sem esse respaldo, e agora estou fazendo o primeiro lançamento com a AlgoHits! Estou com grandes expectativas!
Eu vejo que a galera tem uma expertise de marketing e na distribuição das coisas e conteúdo, que é onde eu tinha mais defasagem, então estou bastante otimista para curtir cada página dessa história.”
Como enxerga esse novo momento na carreira? Se sente mais preparado para lidar com diferentes desafios?
Wesley Camilo: “O momento da carreira é um momento muito interessante, assim, eu vejo que é o primeiro momento em que eu me vejo consciente. As outras decisões que eu tomei ao longo da minha vida, foram decisões que eu tava muito preocupado em sentir e ir de acordo com o meu coração, o que eu acho que são das coisas que mais me orgulho. Os pequenos sim(s) e não que você dá ao longo da história vão formando o que você é. Eu tenho muito orgulho de tentar sempre me ouvir para poder tentar tomar essas decisões. Só que hoje em dia eu vejo que pela primeira vez eu tô mais consciente tendo muito mais noção de tudo que tá acontecendo. Senão de tudo, de boa parte, porque não tem como ter noção de tudo. Porque muita coisa chega e você fica “nossa nem tinha noção disso”.
Muita coisa acontece nesse viés. Mas o momento hoje eu definiria como momento de consciência, onde eu vejo o que eu tenho para oferecer na minha contribuição artística, não só no meu trabalho autoral, mas também colaborando com outros artistas, fazendo direção, fazendo arranjos, porque a minha parada é essa daí, eu tive um caminho longo para me entender como artistas, para sacar a minha identidade e para entender o que eu ia trazer. Agora eu quero muito fazer isso e contribuir com quem esteja nesse caminho. Eu vejo isso muito mais consciente que em outro momento da minha carreira.”
Qual vai ser o tema central do disco e quais novos elementos vai apresentar para o público? No primeiro disco você trouxe referências de nomes como Cassiano, Tim Maia e Djavan, no campo da soul music brasileira e de nomes internacionais como Musiq SoulChild e Jay Dilla, agora o que trará que pode surpreender os fãs?
Wesley Camilo: “Eu tenho uma referência principal, meu chão maior que é a música soul. Tanto nacional quanto internacional, é o que eu mais gosto. É a essência da minha vida. Porque o R&B foi colocado numa caixa de “Fuck Music”, música para fazer neném. E eu nunca gostei dessa caixa, não que eu gosto dessas músicas, eu gosto muito e gosto de fazer também, só que eu sempre achei que a música era a forma que eu tinha para me expressar.
Se você olha para o meu primeiro EP eu falo de outros assuntos além de “love song”. Aliás, tem uma love song, só. Falo de amizade, falo de sonhos, falo de gratidão e a música soul tem isso. O R&B entrou, principalmente o dos anos 90, entrou muito nessa caixa do sexo, do sensual, e tal, e aí eu vejo que o neo-soul ele é uma forma de voltar para a essência de voltar o que era o funk/soul que foi o rap que é discutir política, discutir filosofia, discutir autoconhecimento, discutir sentimentos que não seja só de subjetividade sexual.
Em termos de sonoridade eu tenho essa raiz no soul, nos instrumentos orgânicos numa parada tocada só que a coisa do sample me pega também, então eu faço muito disso, de tocar e me samplear. De ter uma coisa de alma de tocada só que um pouco da linguagem meio eletrônica que o rap tem, que não é totalmente eletrônico, se você ouve o rap você tem um instrumento sendo tocado e sampleado, então você tem tanto o mecânico como o eletrônico, o analógico e o digital, tudo junto. A música eletrônica é toda “chopada”, é tudo muito dentro do grid.
O rap ele tem essa coisa que me pega muito. Ele tem isso da sonoridade clássica dos instrumentos tocados, ao mesmo tempo que eu sampleio. Nas batidas eu tento trazer essa linguagem de estética 808 que tá bastante em vigência agora, tanto que o trap usa bastante, e automaticamente se desdobra. A música do gueto ditando a tendência do pop como sempre foi, que é essa coisa dos recursos, então em termos de estética tem muito disso ainda dessa estética do soul que é uma coisa que eu quero trazer porque esse novo trabalho é o primeiro trabalho que eu chamo de álbum mesmo. O Minhas Verdades eu considero como um EP, um extend play, uma amostra para falar que “eu tô chegando, tenho uma coisa mais na onda R&B, Hip Hop, Soul, uma outra na onda trap, outra coisa mais love song para mostrar todas as coisas que eu gosto”.
Vem muito com esse mesmo raciocínio do primeiro trabalho, desta coisa da sonoridade, tanto da coisa lá atrás analógica com os caras tocando no estúdio tirando som da unha, como tirando coisas do sample. E aí as referências internacionais e nacionais, Music SoulChild é um cara que eu nunca vou largar porque é meu professor maior, amo demais. Se um dia conhecer esse cara eu nem sei o que vai acontecer, sou muto fã dele. Os caras da nacional, eu quero muito poder fazer um trabalho de homenagem a esses três caras, Cassiano, Tim Maia, Djavan são os caras que me forjaram. Esse trabalho traz algumas referências agora de uma forma ainda mais explícita do que o primeiro trabalho, usando samples e recordes para fomentar.
Vou citar o Emicida de novo, tem uma frase que ele diz que é o seguinte “Os nossos livros de história foram discos”, e eu acredito muito nisso, que a nossa história precisa ser contada por nós mesmos. Porque senão ela vai ser apropriada e esvaziada por quem não viveu a história. E isso não é uma teoria da conspiração não, é simples, se você viveu uma experiência você conta para um amigo, esse amigo gosta dessa história e ele conta numa roda você o interrompe e fala “não, não é assim, não foi exatamente assim, deixa eu contar porque eu que vivi”. Então eu penso que essas referências vão vir de forma mais explícita porque eu tenho muito mais essa preocupação de contar a história da sonoridade que eu faço, de dizer de onde que veio essa parada e de elencar bem quem me salvou, eu gosto muito dessa parada.
E falando do tema, o nome do álbum é Presente, e aí eu tento explorar todos os sentidos dessa parada, falar do espaço-tempo presente, que é o único espaço-tempo possível para se viver. As coisas todas acontecem no presente e as outras manifestações de tempo acontecem no presente também. O passado e o futuro só acontecem no presente. Falar sobre a importância desse momento, do espaço-tempo. Sobre o Presente ser um Presente, uma dádiva e a única forma de a gente alterar a realidade. Exercício de presença, essa é a parada, falar sobre os assuntos que estão envoltos nesta coisa de construção de realidade mesmo.
Falar do presente como ponto de vista de, não de carpe-diem, de viva como fosse o último dia, mas numa coisa de exercício de presença, de entender que temos que estar presentes em todos os momentos, tanto na alegria quanto na tristeza. A gente precisa viver, a gente precisa sentir. Essa é a condição do ser humano, então esse álbum veio aí para falar bastante sobre essa coisa; então eu falo bastante de exercício de presença, de liberdade, de medo, de processos, tipo assim, o que você está fazendo hoje você não vai ver hoje, sacou?
A planta ela que ao mesmo tempo que ela é natural, ela sobrenatural. Porque você põe ali a semente, você precisa demandar energia, você rega nasce ela fala “caramba que mágica” ao mesmo tempo é só ela nascendo, é muito simples. Então tem muito essa dualidade de coisas que são muito simples, mas também muito significantes que é o que é o sentido da parada para mim. Tanto fazer música como viver, é o que para mim faz sentido. Essas coisas eu sinto que eu consegui me expressar bem nesse álbum. Esse álbum tem muita força sobre a minha vida, me fez repensar muita coisa. Mudou muito a minha vida esse álbum!”