E aí, o hardcore e o punk rock voltaram mesmo?

29 março POR ALGOHITS

O hardcore e o punk rock voltaram? 

As origens do punk rock geram dúvidas aos historiadores até hoje. Alguns credenciam aos Estados Unidos, outros a Inglaterra…. e tem gente que até diz que o Peru muito antes da febre já tinha sua banda representando o estilo.

Mas de um fato todos concordam, ele mudou o mundo. O jeito de consumir música e de simplificar canções através de mensagens poderosas em poucos acordes. Sua fúria vive no coração de cada jovem rebelde que quer consertar o mundo podre em que vivemos. Muitas vezes controverso, ele traz o escárnio e discussões políticas ou até mesmo abstratas para o centro da roda.

Com origens no rock de garagem dos anos 60, ele logo ganhou um parente, o proto-punk com bandas incendiárias como The Stooges, New York Dolls, The Sonics, The Velvet Underground, MC5, The Sonics, The Dictators, Los Saicos, Flamin’ Groovies, Television, The Seeds, Radio Birdman, Suicide e tantas outras serviram de inspiração para o que viria a ser apelidado como “Punk”.

A Origem do Termo “Punk Rock”

A primeira vez que se empregou o termo punk para se referir a uma canção de rock, já que a etimologia da palavra “punk” ganhou vários significados distintos com o passar dos séculos, foi pelo jornalista Dave Marsh que tentava descrever a sonoridade da banda Question Mark and the Mysterians em uma matéria para a revista Creem (em maio de 1971).

No fim dos anos 70 o punk rock passou por uma série de transformações e desembocou no que seria chamado de Hardcore Punk. As origens do hardcore vem do sul da Califórnia e da forte cena punk de São Francisco que tem inspirações no proto-punk nova iorquino de artistas como Stooges e Dead Boys.

Logo em seguida o termo passou a ser empregado por uma série de jornalistas influentes de rock que tentavam descrever as bandas de garage rock dos anos 60 – e projetos influenciados por elas. Sim, em algum momento eles foram tratados como rockstars, Lester Bangs que o diga. O icônico editor da Rolling Stone não curtia muito o MC5, por exemplo.

Para os registros a primeira geração que de fato abraçou o termo lá por volta de 1976, foram os ilustres Television Dead Boys, Patti Smith e os Ramones, em Nova Iorque – e seu icônico CBGB, Sex Pistols, The Clash, The Slits e The Damned em Londres, e o The Saints na Austrália.

A Explosão do Punk

A explosão viria no ano seguinte, na Inglaterra com uma próspera cena que carregava muito ódio por seus governantes, revolta, e fúria. O punk virou contracultura, moda, ideologia, tudo ao mesmo tempo. O que fez com que ele fosse se transformando e se adaptando – e sendo cooptado. Ganhando assim uma imensidade de subgêneros e mudando o nosso modo de consumir música para sempre.

Se espalhando pelo mundo tendo fortes cenas no Canadá, EUA, Brasil, Itália, Espanha, França, Austrália, Alemanha, México, África do Sul, Irlanda e até mesmo no leste europeu. A identificação não era tão difícil visto que o mundo estava prestes a explodir no fim dos 70 e começo dos 80.

O punk vive, mesmo quando não está expresso através de três acordes, é resistência. Fazer arte é resistência nos dias de hoje e isso só prova que ele após mais 40 anos está longe de morrer.

Punk Rock no Brasil

O Punk Rock chegou com tudo no Brasil e teve como marco o festival O Começo para o Fim do Mundo que aconteceu no palco do Sesc Pompeia no fim de 1982 reunindo as bandas Dose Brutal, Psykóze, Ulster, Cólera, Neuróticos, M-19, Inocentes, Juízo Final, Fogo Cruzado, Desertores, Suburbanos, Passeatas, Decadência Social, Olho Seco, Extermínio, Ratos de Porão, Hino Mortal, Estado de Coma, Lixomania e Negligentes.

Registros como o SUB lançado em 1983 através do selo Estúdios Vermelhos, do Redson do Cólera, também foram importantes para a sua disseminação do estilo no país. Era para ser um álbum do Cólera inicialmente, porém Redson resolveu chamar mais três bandas: Ratos de Porão, Psykóze e Fogo Cruzado.

O primeiro registro mesmo foi o Grito Suburbano que foi lançado em 1982. Este que contou com Olho Seco, Inocentes Cólera, cada uma delas com quatro faixas. O Botinada dirigido por Gastão Moreira e lançado em 2006 é um dos mais importantes documentários do começo do punk no Brasil (assista).

Diferente do povo “durão” de NY, os californianos incorporavam em seu punk expressões anti-arte da raiva masculina, energia e senso de humor subversivo. Sim, o hardcore já nasceu desordeiro por natureza, com desprezo ao comercialismo (Oi, Dead Kennedys), contra a estética comercial da indústria fonográfica e qualquer semelhança ao rock mainstream.

Os problemas sociais e a contestação da política vigente aparecem desde suas origens. Com muito confronto e língua afiada em suas letras e “danças”. Na década de 80 o hardcore virou febre e atravessou o país tendo fortes cenas em New Jersey, Washington e Boston. Inclusive o título do post é inspirado em uma clássica coletânea lançada em 1982.

O desenvolvimento do Hardcore

O Hardcore começou a rodar o mundo e chegar a países como Canadá, Itália, Japão, Inglaterra e Brasil. Além de se tornar popular em países da América latina e Europa.

Como todo estilo ele começou a ganhar subgêneros e correntes como o SXE (Straight Edge) e outros movimentos de contracultura. Todos eles sempre com a mentalidade do Faça Você Mesmo (D.I.Y.).

Alguns dizem que o termo vem direto do álbum da banda de hardcore de Vancouver (Canadá) D.O.A. que em 1981 lançou o álbum com o nome Hardcore 81. Já o historiador Steven Bush diz que o termo se refere ao estar inconformado com o que o punk e a new wave tinham se tornado. Assim hardcore tendo o significado de EXTREMO, punk mesmo e se diferenciando do que estava já sendo incorporado a música mainstream.

Hardcore no Brasil

A imensidão de bandas de punk e hardcore que temos e tivemos é um legado que carregamos e é sempre bom ver reuniões de projetos como Street Bulldogs e RRRAICT TUFF!!! que nos motivam a continuar seguindo em frente. Bandas como Dead Fish se mantém na ativa a mais de 30 anos.

Com popularidade além das mídias tradicionais, festivais como o Oxigênio Festival, Goiânia Noise Festival e Abril Pró Rock costumam abrir portas para o estilo, além claro de muitos shows e turnês país afora.

Por essa razão listamos bandas que mantém a chama do hardcore no Brasil, confira!

Dead Fish

Dead Fish é uma banda brasileira de hardcore que se formou em Vitória, Espírito Santo, no ano de 1991, O grupo lançou o seu primeiro registro em 1998, o álbum Sirva-Se, pela Lona! Records. Depois vieram Sonho Médio (1999) e Afasia (2001), lançado pelo selo Terceiro Mundo Produções Fonográficas, criado pelo próprio grupo. Tendo conquistado projeção nacional através do disco Zero e Um, lançado pela Deck Disc, em 2004, com produção de Rafael Ramos e mixado por Ryan Greene.

Ainda pela Deck Disc, eles lançaram Um Homem Só (2006) e Contra Todos (2009). Depois, via crowdfunding, o Dead Fish lançou o álbum Vitória em 2015, novamente de forma independente. Em 2019, a banda capixaba voltou a assinar com a Deck Disc e lançou o seu trabalho mais recente, o disco Ponto Cego.

Garage Fuzz

Em atividade desde 1991, o Garage Fuzz, de Santos (SP), é uma das mais bem sucedidas bandas do punk rock e hardcore brasileiro tendo realizado turnês por todo país e aberto show de nomes clássicos como Seaweed, Fugazi, Samiam, Sick Of It All e Down By Law. O grupo tem suas origens ligadas a diversas bandas do cenário independente dos anos 80 e 90 em Santos, como Ovec, Psychic Possessor e Safari Hamburguers tendo lançado seu álbum de estreia, Relax in Your Favorite Chair, através do lendário selo de rock Roadrunner Records.

Após a saída do vocalista original Alexandre Sesper (o “Farofa”) o grupo contou com a entrada de Victor Franciscon, além dele a formação atual conta com Fernando Bassetto (guitarra), Wagner Reis (guitarra), Fabricio de Souza (baixo) e Daniel Siqueira (bateria).

Sua discografia conta com os álbuns: Relax In Your Favorite Chair (1994), Turn The Page… The Season Is Changing (1999), 3500 Days Alive! (2001), The Morning Walk (2005), Definitively Alive (2009) e Fast Relief (2015). Além dos EPs Confortable Dimensions For Suitable Structures (1998), Instant Moments (2001), Warm & Cold (2012) e Let the Chips Fall (2021).

CPM 22

Formado em 1995, em Barueri (SP) o CPM 22 é um dos nomes mais relevantes do cenário de hardcore melódico nacional tendo sua formação composta por Badauí (vocais), Luciano Garcia (guitarra), Phil Fargnoli (guitarra), Ali Zaher (baixo) e Daniel Siqueira (bateria). Entre os feitos está o de ser uma das poucas bandas de hardcore a ganha um disco de ouro e a fazer sucesso no mainstream. Em 2008, os paulistas ganharam até mesmo o Grammy Latino de melhor álbum de rock brasileiro.

O primeiro álbum da banda, A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum, já concorreu ao VMB em 2000 e na sequência eles já fizeram turnês ao lado grupos como Lagwagon e Fun People (Argentina). Em 2001 veio o ponto de virada com o contrato com a Arsenal Music, da Abril Music, chegando a uma grande gravadora. Nele músicas como “Regina Let’s Go”, Tarde de Outubro” e “O Mundo Dá Voltas” ajudaram ao disco ter mais de 100 mil cópias vendidas – além de novamente indicações e prêmio no VMB de 2002.

A discografia do CPM 22 conta com os discos A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum (2000), CPM 22 (2001), Chegou a Hora de Recomeçar (2002), Felicidade Instantânea (2005), Cidade Cinza (2007),  Depois de Um Longo Inverno (2011) e Suor e Sacrifício (2017).

Pense

Surgida em 2007 em Belo Horizonte (MG) por nomes experientes da cena de rock e hardcore local, o Pense trilha os caminhos do Dead Fish e tem sido destaque nos últimos anos em seu segmento.  Realidade, Vida e Fé, lançado em 2028, consolidou os 10 anos do grupo mantendo a mesma intensidade dos discos anteriores (“Espelho da Alma” (2011) e “Além Daquilo Que Te Cega”  (2014) ) com letras otimistas e reflexivas sobre realidade política e social brasileira.

Agora prestes a completar 15 anos eles anunciaram sua nova formação com Ítalo Nonato, que passa o bastão de guitarrista para Raphael Gonçalves e Daniel Avelar, enquanto ele, após quinze anos com as seis cordas, assume finalmente os vocais do Pense. Judá Ramos segue no baixo, enquanto a bateria agora é tomada por Alexandre Magno.

Em breve poderemos ouvir os materiais inéditos do grupo que passa também por este desafio de reformulação e diferentes referências. Em novembro eles devem lançar o primeiro single da volta, então fique ligado nas redes sociais da banda.

“Estamos a todo vapor nas composições preparando os detalhes do nosso primeiro single que deve sair até o mês de novembro e vai fazer parte do disco, que vem em 2023.”

Dharma Numb

O supergrupo de hardcore punk paulistana Dharma Numb lançou seu EP de estreia Dharmage no fim de 2020 com as canções “Outburst”, “No Regrets” e “Feline Eyes”. “Outburst”, inclusive, ganhou um videoclipe com direção assinada por Pedro Paulo Melara e Claudio Cestare Jr..

O quinteto é formado por integrantes que figuram o cenário underground brasileiro já a alguns anos, entre eles Victor Franciscon (ex-Bullet Bane, atual Garage Fuzz) nos vocais, Danilo Inada (ex-Rawfire, atual Angular) e Pedro Melara (ex-Rawfire, atual Dinamite Club) nas guitarras, Ali Zaher (ex-Reffer, atual CPM 22) no baixo e Thiago Babalú (ex-Reffer, atual Urutu) na bateria.

Ainda no primeiro semestre a banda tem planos de lançar um EP entre outras surpresas. Fique ligado!

Chuva Negra

Chuva Negra é uma banda paulistana de punk rock formada por Rodrigo Chinho (voz), ex-Fullheart, Mateus Brandão (guitarra), Thiago Nunes (guitarra), Marcelo Sabino (bateria) e Gabriel Melo (baixo). Em 2010 foi lançado o primeiro álbum, Terapia com a temática do marasmo de uma grande metrópole como São Paulo, o material teve a masterização realizada por Jason Livermore (Descendents, NOFX, Propagandhi).

Após isso eles lançaram o EP 7” Sempre Verão, em 2012, que conta com três faixas, e antecedeu o segundo disco Meio Termo lançado em 2014. Sua sonoridade passa pelo punk e hardcore e o discurso antifascista é constante nas letras, assim como, o sarcasmo. Em 2017 foi lançada uma coletânea através da Flecha Discos e nela aparece “33 Lobos”. Em 2019 foi disponibilizado o single “C’est La Vie” e o lançamento mais recente “Bye Bye Señor Limpio (Versão Baile)”, música feita para se despedir do governo Bolsonaro – e por isso foi lançada no dia 1/01.

Bad Luv

A Bad Luv nasceu no segundo semestre de 2021, em meio a uma pandemia, fruto de quatro mentes inquietas atrás de um novo desafio. O quarteto é composto por João Bonafé (baixo), Murilo Amancio (guitarra), Virot Peracetta (bateria), formação da antiga Black Days, e Stefano Loscalzo. Entre as referências do quarteto estão o post-hardcore e o hardcore mas elementos eletrônicos, reggae e até mesmo o ska aparecem como podem ouvir em “Vendaval”.

Magüerbes

Em atividade desde 1994 a banda foi fundada na cidade de Americana (SP) e está atualmente estabelecida na cidade de São Paulo. Em 2023 completa ininterruptos 29 anos de serviços prestados à música alternativa independente nacional, com sete discos lançados e há muito tempo ostentando o título de “uma das bandas mais autênticas do cenário brasileiro”.

Sua formação conta com Haroldo Paranhos (voz e ruídos), Ricardo Franciscangelis (bateria), Julio Ramos (baixo) e, Fabrizio Martinelli e Fabio Capelo (guitarras).

O lançamento mais recente do Magüerbes, “Coreto” primeiro single a ser revelado do novo álbum Rurais, foi disponibilizado pela Repetente Records, selo administrado e criado ano passado por Badauí, Phil Fargnoli e Ali Zaher, músicos do CPM 22, que agora conta com a direção artística de Rick Lion, no dia 10/03.

Sebastianismos

Se aproximando da estética do Machine Gun Kelly, Sebastián Piracés-Ugarte, conhecido popularmente através do seu nome artístico Sebastianismos, lançou seu primeiro disco solo em 2021, Tóxico. Conhecido como integrante da francisco, el hombre, ele decidiu apostar em uma sonoridade bem distinta do seu projeto principal e com referências de pop punk, pop rock, reggaeton, punk rock e do revival do emo.

O material ainda reúne participações de Russo Passapusso (BaianaSystem), Malfeitona, Jaloo e Luê. O disco tem temas diversos, passado pelo amor ao campo inflamado da política.

Cefa

Cefa é uma banda de post-hardcore experimental de Curitiba (PR), em 2020 eles lançaram o terceiro álbum de estúdio, Caos, com 12 faixas e a participação de Lucas Silveira (Fresno) em “Solidão”. Antes disso eles haviam lançado o álbum de estreia O Fantástico Azul ao Longe (2015) e o EP Alúmen (2019).

“Como tudo nesse álbum, a participação do Lucas também foi uma decisão artística, uma vez que ele me influenciou muito como compositor. Além disso, grande parte do nosso público sempre clamou por esse feat. Além de uma realização pessoal, essa collab é também uma realização para os nossos fãs”, contou o vocalista Caio Weber na época do lançamento

“É até difícil falar sobre o disco, porque todas as coisas que eu acredito que precisavam serem ditas estão descritas nas letras. Eu escrevi coisas nesse álbum que eu nunca havia tido coragem de falar pra ninguém e também pude cuspir verdades que estavam há muito tempo engasgadas,”, complementa sobre disco o vocalista.

O lançamento mais recente foi disponibilizado no dia 27/01, o single “Alguém Me Tira Daqui!”.

Metade de Mim

O Metade de Mim é um quarteto paulista formado por Renan Sales (vocal), Felipe Angelim (ex-Clearview, guitarra), Danilo Tanaka (bateria) e Giuliano Augusto (ex-Children of Gaia, baixo) e em 2022 apresentou o EP Depois de Tudo que eu Passei flertando com o rock alternativo, o hardcore melódico e o emo.

O processo da concepção do material, inclusive, é anterior a pandemia por si só mas sua finalização só foi acontecer nos últimos meses de 2021. O material que foi gravado no estúdio Back in Town (Jundiaí/SP) teve a produção de Gabriel Arbex, já Gabriel Zander foi o responsável pela masterização e a mixagem.

O single mais recente “Vacilo” foi lançado no dia 23/02.

E você, acha que o punk rock e hardcore voltaram aos holofotes?

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